Folha de S. Paulo


Lula 3, a revanche

É possível que Dilma Rousseff não venha a ser deposta em maio. Assim, o Planalto voltou a pensar em um plano de governo conduzido por Lula. A frase é ambígua de propósito. Plano ou governo conduzido por Lula? Qual plano?

Depende, claro, de Dilma. O comportamento da presidente é previsivelmente errático. Ela se retrai e se abre a conselhos nas agonias; reincorpora Dilma ela mesma nos enganos das calmarias. A depender da opinião de ministros do palácio, todos agora lulistas por boniteza ou precisão, convicção ou necessidade, Lula deveria assumir o plano de governo pelo menos até que a situação "se estabilize", meses depois de uma derrota do impeachment.

Segundo lulistas do Planalto, Lula viria a propor um "pacto de governabilidade e reconciliação", um plano que tivesse o mesmo efeito de uma "Carta ao Povo Brasileiro", mas desta vez capaz de apelar tanto às "bases de esquerda" quanto a empresários e "parte da direita".

A "Carta", como se recorda, foi o documento que o candidato Lula lançou em junho de 2002 a fim de tranquilizar os donos do dinheiro grosso, manifesto com o qual subscreveu a política econômica implementada desde o governo FHC 2, aliás abandonada por Dilma 1.

Qual a substância dessa "repactuação", como a coisa vem sendo chamada por lulistas do Planalto? Névoa, por ora. Seria algo na linha de reiterar o compromisso com a estabilidade econômica (controle de gastos, dívida e inflação) com um programa de emergência para que o país volte a "gerar emprego e renda". Bidu.

Não importa muito o cargo que Lula assumiria. Mais relevante seria recompor a coalizão no Congresso e a afinação de Lula com a presidente.

O primeiro passo da formação da "nova base aliada" já está sendo dado, dizem os planaltinos.

Para começar, Lula está "virando" votos contra o impeachment, fato que, aliás, era confirmado na sexta-feira até pelo quartel-general de Michel Temer. Além do mais, os planaltinos parecem animados com as declarações de Renan Calheiros a respeito do teatro do desembarque peemedebista do governo. Acham que "um pedaço bom" do PMDB volta para Dilma-Lula mesmo antes da eleição municipal. Acham que só mesmo o PTB está perdido. "O resto está vindo."

Calheiros chamou o desembarque de "pouco inteligente", além de afirmar que, "seja qual for o cenário", não acredita que o PMDB "vá liderar uma corrente de oposição no Parlamento". Calheiros, recorde-se, está cada vez mais sitiado pela Lava Jato.

A conversa dos lulistas planaltinos recomeça, pois, no ponto em que foi afogada pela pororoca da divulgação dos grampos, no dia 16 de março. Sob Lula 3 não haveria nem "virada à esquerda" nem "saída pela direita", mas "reconciliação". Henrique Meirelles volta? Nessa confusão, não é possível pensar em nomes. Primeiro, é preciso "repactuar" e "estabilizar o país".

Essa "repactuação" envolve colocar algum cabresto no Ministério Público e na Polícia Federal? "Claro que não", óbvio, respondem. Mas é preciso haver "disciplina" e "novos normativos" para preservar o Estado de Direito, dizem os planaltinos, ressaltando que essa é uma preocupação geral, inclusive "do pessoal de Michel Temer".


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