Folha de S. Paulo


Briga na rua, manha no palácio

O PMDB AINDA não desembarcou do governo. A oposição mal se acomoda no mesmo barco. Muitos brasileiros entraram na barca do inferno do conflito que degenerara em ódio e agora começa a se depravar em brigas de rua, intimidações e assédios raivosos em escolas, lugares de trabalho, calçadas e, desnecessário dizer, redes sociais.

Há risco de mais batalhas, de violência política que já pipoca como guerra molecular; cresce o risco de crise institucional.

A coisa pode se arrastar. Assim como parece impossível imaginar de que modo Dilma Rousseff possa voltar a governar, ainda não está claro como seu governo vai terminar. Pode ser, na prática, na semana que vem, se o PMDB der o fora. Ainda assim, a presidente agora "vai para as ruas" gritando, como ontem, "não vai ter golpe".

Ministros e parte do PMDB da Câmara querem adiar do fim do mês para 12 de abril a decisão acerca do desembarque final. Renan Calheiros vai devagar com o andor a fim de proteger santos de barro, não se sabe quais. Ele mesmo, diz seu entorno, acha que não tem mais volta.

O PMDB de Michel Temer e o PSDB continuam a discutir os termos de divisão do butim depois da derrota de Dilma, mas atritos e afoitezas são evidentes. Além do mais, tucanos maiores continuam a se estapear pela cabeceira da mesa auxiliar -ou pela janelinha do avião, dados os infantilismos.

No calendário de Eduardo Cunha, a Câmara votaria o impeachment em 17 de abril. A essa altura, a depender da "união do partido", o caldo de Dilma já pode ter entornado.

Assim como o embate social, para nomear com um eufemismo acontecimentos preocupantes. Parte do governismo estimula a louca ressurreição mitológica de 1964, o que, porém, cria fantasmas reais. A história no Brasil acontece como farsa e se repete como zorra total.

Os comportamentos aloprados da semana passada, de parte do governo e de parte da Justiça, envenenaram de vez o ambiente. A lerdeza da Justiça em definir a correção de procedimentos, em julgar processos de atores cruciais e a politização de certos e notórios magistrados contribuem para o aumento do risco de violência e para o descrédito da ideia de regulação e moderação das disputas.

A Polícia Federal entrou em guerra com o ministro da Justiça. A Lava Jato não apenas continua a trabalhar mas vai acelerar seus processos, para demonstrar autonomia. Ontem mesmo, mostrou que a devastação das investigações ainda vai longe: estourou a boca da propina da Odebrecht, que decidiu entregar muita cabeça coroada.

Nas ruas sem controle, sem lideranças políticas de juízo, visão, tamanho ou substância, as pessoas se estapeiam, com a colaboração tumultuária de polícias como a de São Paulo, que na segunda (22) deu tiros em uma universidade, a PUC.

Ouvem-se mais e mais casos de crianças e professores de escolas privadas ou empregados de empresas que sofrem assédio ou intimidação violenta caso manifestem ou pareçam manifestar simpatias governistas. Quase todo o mundo já "saiu no braço virtual" nas redes sociais ou viu tal coisa acontecer.

Mais e mais comícios menores estão marcados, "atos" pró e contra o governo, grande oportunidade de degeneração em tumultos violentos. Para uma desgraça, basta um idiota mal-intencionado ou alucinado.


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