Folha de S. Paulo


Grécia, últimas horas

Ainda na manhã de hoje, o Banco Central Europeu pode ter desligado os aparelhos que mantêm vivos os bancos gregos. Sem dinheiro do BCE, os bancos gregos estariam virtualmente quebrados.

Neste caso, restaria saber apenas que bomba explodiria na economia grega. Saída do euro e adoção de uma nova moeda, a fim de evitar a quebra real dos bancos, ou uma espécie de calote-confisco, por meio do qual os passivos dos bancos seriam transformados em capital, levando o dinheiro dos gregos credores e até depositantes.

Mas nada disso estava certo na noite de ontem. O desmoronamento grego ocorre pedra por pedra. Até restos de negociações mínimas ocorriam enquanto a casa caía, aos poucos.

De mais certo, a Grécia deu calote no FMI e o programa de "socorro" aos gregos expirou. O governo grego fez um pedido desesperado e algo incompreensível de um pacote de empréstimos de dois anos.

A Alemanha diz que não move uma palha antes do referendo de domingo _sem dinheiro ou voto alemão, nada anda. O presidente do grupo de ministros das finanças da eurozona (Eurogrupo), Jeroen Dijsselbloem, disse que inês era morta e que nada mais seria tratado com a Grécia até a definição do referendo, que o resultado seja pró-Europa e que o governo grego então se disponha a se render quase incondicionalmente ao acordo proposto pelos credores no domingo passado.

No próximo domingo, os eleitores gregos decidem, na prática, se o governo deve negociar nos termos dos credores (União Europeia, Banco Central Europeu, FMI, basicamente) ou ratificam a atitude de ruptura do governo de esquerda, do Syriza.

Os gregos propuseram ontem uma saída para o impasse que criaram: podem cancelar o referendo e aceitar quase integralmente os termos do acordo proposto pelos credores no domingo, caso a União Europeia ofereça um novo empréstimo e uma reestruturação da dívida (uma combinação de perdão, prazo a perder de vista, juros menores).

No entanto, a não ser que se inventem arranjos extraordinários, qualquer concessão aos gregos agora depende de um protocolo burocrático e político enjoado, que deve incluir mesmo votações em parlamentos nacionais _para dizer o mínimo, pois a boa vontade com os gregos escorreu pelo ralo, com exceção agora talvez apenas dos franceses.

Aliás, segundo diplomatas franceses, gente da Comissão Europeia ("governo" europeu) teria feito uma tentativa de obter uma rendição de Alexis Tsipras, o primeiro-ministro grego, nos termos de Dijsselbloem, o holandês que preside o Eurogrupo, mas uma rendição imediata, o que poderia evitar acidentes como um colapso bancário grego.

O governo de Tsipras teria de aceitar formalmente o pacote de domingo e fazer campanha pela ratificação desse acordo na votação de domingo. Assim, levaria algum para cobrir atrasados e pagamentos imediatos e uma promessa de renegociar a dívida no final do ano.

Trata-se de medidas heroicas a fim de salvar uma negociação em estado terminal. Não resolvem nada a respeito da Grécia, que entrou em situação crítica na segunda-feira. Não resolvem nem mesmo o risco real e imediato de colapso bancário, que arruinaria o que restou da economia grega.


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