Folha de S. Paulo


Arrocho e corpo estendido no chão

A agência de classificação de risco que arrastou pelo chão o corpo caído da Petrobras parece ter dado ontem um refresco para o crédito do governo do Brasil. Segundo o pessoal da Moody's, ainda que o governo tenha de carregar a petroleira nas costas, fechando as contas da estatal neste ano e mesmo pagando suas dívidas, não vai rebaixar a nota de crédito do governo.

Poderia ser pior. Mas não parece que vai melhorar.

A taxa de juros que o governo vem pagando para fazer dívida nova ou rolar débitos estava horrível; voltou a subir desde o início do mês. Está cada vez mais difícil de ver como os novos economistas de Dilma Rousseff vão entregar o superavit primário prometido, pois, além das dificuldades sabidas, há novas: a arrecadação de impostos em janeiro foi muito baixa.

E daí? As agências que dão notas de crédito de costume chegam apenas no final das batalhas, para aleijar de vez ou matar os feridos. Como diz o jargão, o "mercado se antecipa", cortando ou encarecendo o crédito de quem está avariado, como o Brasil deixado por Dilma 1.

Na prática, o crédito da Petrobras já estava no lixo. Investidores, donos de dinheiro grosso, estavam pedindo juros muito maiores para ficar com dívida da empresa (ou queriam desconto maior para comprar títulos de dívida da empresa, o que é a mesma coisa).

Quando as agências decretam estado de calamidade, calamidade já havia, embora o sufoco aumente: certos investidores ficam legalmente impedidos de emprestar à empresa, que de resto fica com o nome menos limpinho na praça.

Ao que parece, Dilma 2 rendeu-se à ideia de que é preciso evitar que o crédito do governo do Brasil vá para o brejo, que os juros disparem de vez, para nem mencionar outros desastres piores.

A rendição de Dilma foi um começo possível de solução, mas a coisa não está fácil e se torna mais nebulosa a cada dia que se descobrem caveirinhas (despesas não reconhecidas), o tamanho cada vez maior do rombo deixado por Dilma 1 e, agora, quando se nota que não está entrando dinheiro no Tesouro.

No Orçamento deste ano, previa-se que a receita federal cresceria uns 16% sobre 2014. Nos últimos 12 meses, vem crescendo a 4% e cada vez mais devagar. Pode bem ser, como de costume, que tanto receitas e despesas do Orçamento sejam uma ficção, que os economistas de Dilma 2 trabalhem com outros números, mais realistas e secretos. Mas, aqui de fora, a aritmética da pindaíba parece cada vez mais difícil e preocupante.

Seria o caso de Fazenda e Planejamento apresentarem logo ao público interessado uma reprogramação financeira informal, pois as contas definitivamente parecem não fechar.

Já era difícil de ver de onde viria um terço do superavit almejado para este ano, de quase R$ 60 bilhões. Além do mais, o aumento de impostos deste ano não vai dar nem para a saída do buraco que vai ser criado pela provável frustração da receita. Ou seja, o arrocho terá de ser bem maior. Mas nas costas de quem?

Mais arrocho implica mais conflito político, dentro e fora do governo; provavelmente, mais recessão. A pressão já está grande; o governo não cria válvulas de escape. Apenas alimenta a fogo da caldeira.


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