Folha de S. Paulo


Vem pra Caixa e pra Petrobras também?

Dilma Rousseff confirmou que seu governo pretende vender um pedaço da Caixa Econômica Federal daqui a dois anos, notícia espantosa adiantada na edição de domingo desta Folha.

A CEF é 100% estatal. Abrir seu capital, vender parte da propriedade por meio da emissão de ações, não seria um espanto em outra situação. Mas tal anúncio ocorre no momento em que a maior quase-estatal do Brasil, a Petrobras, está mutilada. A Petrobras obedece a ordens do governo da União, seu maior acionista, mas a propriedade é, em parte minoritária, privada.

O que pode significar a abertura do capital da CEF?

Primeiro, de imediato, o reconhecimento de que o banco não tem mais como crescer, a médio prazo, sem recorrer ao capital privado, pois o governo está na pindaíba, não tem mais como fazer dívida de modo a engordar a CEF. Com dinheiro obtido via aumento da dívida pública, os governos Lula 2 - Dilma 1 financiaram para os bancos públicos a compra de uma fatia do mercado de crédito equivalente ao tamanho de um Itaú ou de um Bradesco. Isso acabou.

Segundo, pode ser que o governo queira dar um sinal de que quer submeter a administração do banco ao escrutínio e "modus" financeiro privados –condição para que alguém queira comprar ações da CEF.

Dados os exemplos de Petrobras e Eletrobras, quem quereria comprar ações da CEF? A presidente diz que o negócio é para daqui a dois anos, pois o banco tem de ser preparado para tanto. "Preparado" significa, em parte, reformado para atender a requisitos da nova conformação jurídica. Significaria também adaptar a CEF uma administração que dê segurança ao investidor privado?

Se a presidente planeja dar tal destino à CEF, o que pretende então fazer das demais estatais? Dada a situação da Petrobras, é preciso mudar a direção que o governo impôs à empresa, um dos fatores principais de sua crise.

Gente do governo diz que a presidente estaria convencida de que precisa fazer mudanças e que levaria "executivos do mercado" para o conselho de administração, deixando ao menos por ora o "operacional" com Graça Foster. Não se sabe quais seriam as mudanças.

A Petrobras cambaleava já antes da descoberta da roubança porque: 1) se endividava de modo insustentável; 2) era obrigada a perder receita para ajudar a má política econômica (tabelar preços a fim de conter inflação); 3) faz mais despesa porque é obrigada pela política industrial de Dilma a comprar produto nacional caro demais; 4) seria obrigada a entrar em projetos do pré-sal mesmo contra sua vontade e disponibilidade financeira, dada a nova lei do petróleo.

Dados os rombos de caixa e o fato de a Petrobras estar amarrada a um plano governamental de contratação de desequilíbrios financeiros, a Petrobras não tem flexibilidade para lidar com reviravoltas como as do presente mercado de petróleo ou do câmbio. Menos ainda para acomodar o golpe da roubança, que elevou o seu descrédito financeiro.

Sim, é possível fazer "política estratégica" com estatais. Mas a condição básica de qualquer estratégia é não quebrar as empresas.

O plano de dar vida nova à CEF não combina com a inércia do governo em relação à reforma urgente da Petrobras.


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