Folha de S. Paulo


Bodes de volta na sala do Brasil

Um bode havia saído da sala superpovoada de problemas da economia brasileira ali pelo final de novembro. A promessa de revogação da política macroeconômica do governo Dilma Rousseff 1 baixou o estresse, com o que taxas de juros caíram e o preço de outros ativos financeiros, como ações, subiu. Bem, o bode voltou, de patas dadas com amigos estrangeiros. Os juros subiram aqui, para níveis feios, o real come terra, a Bovespa míngua, o custo de empréstimos no exterior sobe.

O Brasil padece, embora na companhia de outros emergentes.

Não nos ajuda em nada, claro, que prossiga a operação desmanche da Petrobras e que o governo esteja desaparecido. Daqui a 15 dias estreia Dilma 2 sem que tenhamos ideias mais claras do que será feito da economia ou ideias mínimas de como o governo vai lidar com o arruinado setor de energia, por exemplo.

O clima está ruim no mundo inteiro, mas, graças à participação especial do governo, nesta segunda-feira as ações da Petrobras desciam pelo ralo, tendo sua negociação normal sido suspensa várias vezes, quando o preço dos papeis despencava quase 10% (um dia de perdas pesadas com vencimentos de negócios futuros, opções, também azedou o caldo).

O que mudou desde que a nomeação da nova equipe econômica tirou um bode da sala? Também no final do mês passado, a Opep, o cartel de países petrolíferos, reafirmou que tão cedo não mexeria uma palha a fim de evitar a queda do preço do barril. Além do mais, as instituições que fazem as estimativas mais relevantes para esse marcado baixaram ainda mais as previsões de consumo em 2015.

Em tese, combustível mais barato é boa notícia para quase todo mundo que não dependa de petróleo para sobreviver. A queda rápida e surpreendente de preços, uns 45% desde meados do ano, parece porém ter causado desordem nos mercados financeiros mundiais. Nesta segunda, gente da Opep, no caso os Emirados Árabes Unidos, jogou mais óleo no ventilador ao dizer que a Opep não vai se mexer mesmo que o preço do barril desça a US$ 40 (anda entre US$ 55 e US$ 62) e que não haverá reunião de emergência do cartel em menos de três meses.

De imediato, petróleo barato demais arruína grandes produtores em estado problemático ou crítico (Rússia e Venezuela) e países petroleiros mais pobres, mas aumenta a renda disponível dos demais. No entanto, o preço baixo também ressuscitou suspeitas vagas de que o mundo talvez esteja crescendo devagar demais (consumindo pouco combustível, pois); de que a baixa quase geral do preço de commodities e recursos naturais possa avariar demais economias emergentes, como o Brasil, mas não apenas.

A conexão dos fatos não é precisa e os chutes informados sobre o petróleo são díspares. Neste momento de confusão, o rumorejo sobre causas e temores se dissemina.

Volta-se a falar de declínio chinês, da alta de juros nos EUA e seus efeitos ruins, do futuro de Europa e Japão, que se batem com inflação baixa demais (crescimento de menos) etc.

O motivo exato do tumulto não é claro. As Bolsas emergentes estão no nível do paniquito de janeiro-fevereiro, e as moedas desses países se desvalorizam. Quem já estava mais fraquinho tende a padecer mais. Mas a confusão é ora geral.


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