Folha de S. Paulo


Um pacotinho para a Petrobras

O governo não está parado à espera de a banda da Petrobras ir para o brejo, diz gente envolvida na formulação de políticas para a administração Dilma Rousseff 2.

Há mesmo quem recorra à expressão "choque de credibilidade", que não cai lá muito bem. Outros dizem apenas que o governo pretende fazer com a Petrobras algo parecido com o novo programa mínimo de política econômica, basicamente um conserto gradual das contas públicas, promessas de reformas institucionais e rendição à racionalidade econômica básica.

Do que se trata? Haveria uma revisão do ritmo de investimentos da Petrobras, ambicioso demais, que exige endividamento crescente e temerário da empresa, ainda mais porque ordens do governo fizeram a empresa perder receita e gastar mais. Isto é, vender combustível abaixo do custo e comprar equipamentos e serviços nacionais mais caros que na praça mundial, por exemplo.

De quanto e quando será a revisão? Não contam. Poderia ser até amanhã, na triste e atrasada divulgação do balanço sem auditoria da empresa, um vexame.

A empresa corre o risco de dar com a cara na porta fechada do mercado internacional de empréstimos, pois seu crédito piorou devido ao endividamento crescente, à interferência daninha do governo na administração e ao Petrolão. Se quiser abrir a porta do crédito, a estatal vai ter de pagar pedágio caro, pois credores potenciais ora exigem taxas de juros mais altas para ficar com papéis da empresa.

O que pode ser feito? De imediato, o governo diz elaborar uma operação em que a Petrobras toma emprestado no mercado doméstico uns R$ 6 bilhões, dando como garantia dinheiro que tem a receber da Eletrobras, uma dívida enrolada de compra de combustíveis, débito que a estatal elétrica não queria reconhecer. Sabe-se lá se a Eletrobras pode pagar, pois está arrebentada. Em última instância, a garantia para o empréstimo viria mesmo do Tesouro, do governo federal.

Para uma empresa que tem investido uns R$ 100 bilhões por ano, R$ 6 bilhões são troco. Mas o alívio, aliado a outras medidas "incrementais" de ajuste, poderia dar a impressão de que a casa da estatal começa a ser posta em ordem.

De qualquer modo, é difícil revisar o plano de investimentos da empresa. No caso da Petrobras, não se trata de desistir de fazer um puxadinho. Vários projetos enormes e complicados já estão em desenvolvimento. Além do mais, a Petrobras é grande o suficiente para ter impacto na economia nacional, da arrecadação de impostos (equivalente a 2% do PIB) à taxa de investimento (mais de 10% das despesas anuais em capital do país inteiro). Portanto, o cálculo de perdas, danos e benefícios de frear investimentos não é nada simples.

E reajustes adicionais de preços? A depender de quem se escuta no governo, a conversa é muito diferente. Uns dizem que reajustes "desapareceram do horizonte relevante", dadas a queda do preço do petróleo e a inflação, que vai acelerar na primeira metade do ano que vem. Mas há quem diga que ainda assim é preciso "melhorar o caixa da empresa, quem sabe mais para o final de 2015, quando o cenário estiver mais claro para a empresa, para o câmbio e para a inflação".


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