Folha de S. Paulo


Petrobras, Petrolão e petrocrise

Previsões do preço do petróleo costumam ser mais furadas do que estimativas da taxa de câmbio. Logo, é preciso ir muito devagar com o andor da especulação sobre o efeito da atual turumbamba no mercado de petróleo no destino da Petrobras, maior empresa e maior pagadora de impostos do Brasil e, infelizmente, um dos maiores rolos econômicos legados por Dilma 1 para Dilma 2.

Ainda assim, parece que o tumulto petrolífero tende a durar pelo menos durante 2015 inteiro, o que pode ter efeitos críticos de curto prazo sobre uma empresa tão avariada quanto a Petrobras.

Mesmo que os preços do petróleo se recuperem a partir de meados do ano que vem, o mercado de combustíveis vem passando por mudanças brutais faz pelo menos cinco anos. Enquanto o governo brincava com a ideia de se tornar sultão da nova república petroleira, a incrivelmente ágil economia norte-americana deu uma cambalhota nos negócios petrolíferos, entre 2006 e este ano. No período, os americanos aumentaram sua produção a ponto de deixar de importar o equivalente à produção de Irã, Iraque e Venezuela somados.

Pelo sim e pelo não, a Petrobras vai ter de pensar na vida, dadas as mudanças no mercado, seu endividamento, seu atual descrédito e o peso que o governo jogou sobre suas costas. Ou seja, o governo impôs-lhe perdas ao obrigar a empresa a vender combustível barato demais, ao impor um programa de investimento ambicioso demais e custoso demais, dadas as exigências de nacionalização (compras de insumos nacionais), e de exigir que a empresa seja sócia de quase tudo no pré-sal. Precisa falar do Petrolão?

No curto prazo, ano que vem, como se dizia acima, as previsões são de preços baixos, embora a dispersão das estimativas seja "estarrecedora". Bancões mundiais estimam que o barril possa ficar entre US$ 60 e US$ 85, a diferença entre um porco magro e um barril de banha.

Os economistas do bancão Morgan Stanley preveem que o preço baixaria a US$ 57, na média do segundo trimestre, para subir até US$ 82 no trimestre final do ano. O título do relatório é "Petróleo 2015: Provavelmente Piora Antes de Melhorar".

O pessoal do Morgan Stanley acredita que há exagero nas estimativas de superoferta. Que o preço baixo vai estimular o consumo, reduzir a produção, tirar algumas empresas ou "poços" do negócio, limitar o investimento novo (nos últimos dias, petroleiras grandes vêm anunciando cortes de pessoal ou investimento). Enfim, o estrangulamento das receitas de vários países petrolíferos, da Opep ou fora dela, pode incentivar um corte da produção.

De qualquer modo, o ano será "volátil" para o preço do barril, que pode mesmo baixar a US$ 45 antes de metade do ano, quando então haverá alarmes e alarmismos sobre a inviabilidade da cara produção da Petrobras em águas profundas.

Caso a empresa não estivesse apanhando por todos os lados, o paniquito da baixa aguda de preço poderia passar, sem mais. No atual estado de saúde financeira e de imagem da empresa, há dúvidas: seu crédito está em baixa (vai pagar mais caro para se endividar) e não se sabe se sua administração vai ser profissionalizada, para ficar nos problemas mais imediatos.


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