Folha de S. Paulo


A dança das cadeiras de fofocas

O BALÃO COM o nome de Joaquim Levy como novo ministro da Fazenda subia acima dos telhados desde quarta-feira. Levy foi secretário do Tesouro quando a Fazenda esteve sob Antonio Palocci, entre 2003 e 2006. Ora dirige a Bradesco Asset Management, uma empresa do Bradesco que administra recursos de terceiros, R$ 304 bilhões deles.

No entanto, balão de Levy poderia ter subido no telhado quando estas palavras eram escritas. Gente do entorno da presidente diz que Dilma Rousseff tem andado ainda mais fechada do que de costume, entre irritada e acuada pela maçaroca que está o país nesta transição do governo dela para o dela mesma, que tem de ser meio outra.

Levy como ministro da Fazenda é um boato mais fresco, de uma semana. Mas o balão de Nelson Barbosa ainda está no ar, pairando entre a Fazenda e o Planejamento. Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, continuava como coringa, podendo se encaixar na Fazenda ou ficar no BC.

É até possível, porém, embora improvável, que apareça um J. Pinto Fernandes, que não tinha entrado na história mas se casou com Lili, que não amava ninguém, como no poema "Quadrilha", de Carlos Drummond de Andrade.

Ainda divertido, quando Levy saiu do Tesouro, correu o boato de que Tombini deixaria uma diretoria do BC para substituí-lo. Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, que ontem teria recusado o cargo de ministro da Fazenda, "era cotado" para assumir o Banco Central em 2010, no início do governo Dilma 1. O cargo ficou com Tombini.

Enfim, para encerrar a descrição de trapalhadas rumorosas, causa consternação constrangida que a presidente tenha se passado ao papelão de fazer um convite quase-muito-público para o segundo cargo mais importante de seu governo apenas para vê-lo recusado e vazado pelos canos da mídia, passo a passo, se é que a novela de Trabuco foi descrita de modo preciso.

Além do vexame e de mais um tropeço amadorístico, o episódio de certo modo queima o filme do ministro que vier de fato a ser nomeado, que estreará desenxabido no cargo, como segunda opção que foi.

Mais relevante dessa história toda, por enquanto, é a dificuldade de encontrar um ministro com o perfil adequado. Nem pode ser alguém que passe a mensagem de rendição incondicional da presidente aos críticos de sua política econômica, nem alguém que continue a guerra, a atirar nos credores ("mercados") e de parte da elite econômica.

Ressalte-se o "parte" da elite econômica, pois muito empresário gostaria apenas de uns ajustes básicos na política econômica, pois gosta do bem bom dos subsídios ainda mais gordos dos anos de Dilma Rousseff, sendo de certo modo, digamos, tão heterodoxos quanto muito economista de esquerda.

Em suma, apesar de haver muitos quadros bons para assumir a Fazenda, a intersecção do conjunto dos ministeriáveis "não muito anti-Dilma" com o conjunto dos "não muito contra os mercados" não chega a ser um conjunto vazio, mas chega perto.

Sobra pouca gente. Segundo a especulação de ontem, a tendência ainda era de uma nomeação que vai ficar com cara de capitulação da presidente diante das críticas e da realidade dura.


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