Folha de S. Paulo


Calminha depois da 'Juízo Final'

Desde o dia da "Juízo Final", ontem foi o dia menos inquieto no universo paralelo das finanças. "Juízo Final", como se sabe, foi o nome do conjunto de batidas e prisões da Polícia Federal que levou para a cadeia boa parte da alta direção das empreiteiras do país, na sexta-feira passada.

Pelo menos por um dia, voltou-se mais ou menos ao mau estado do crédito de governo e empresas brasileiros vigente pelo menos até quinta-feira passada.

A coisa despiorou um tanto, com exceção do crédito das grandes empreiteiras e da Petrobras, que levou tombos e ainda está caído.

Aliás, rapazes do mercado lá de fora parecem acreditar, pelo que dizem de público ou nas internas, que as maiores empreiteiras do Brasil podem ser impedidas de fazer negócios com o governo, dado seu envolvimento na roubança. Muitos dizem temer também que outras estatais devem entrar na roda e que obras de infraestrutura podem emperrar.

Sim, a gente especula por aqui no Brasil que tais desenvolvimentos são possíveis, qualquer cidadão que lê jornal sabe disso. Mas esse povo lá de fora parecia ontem muito impressionado, e eles têm dinheiro na caixinha. Fazem avaliações de crédito das empresas. Fazem recomendações de compra e venda de papéis de empresas e governos. Goste-se ou não deles, o que dizem sobre o Brasil pode nos custar caro.

No mais, a coisa ficou um tanto menos nervosa. Caíram as taxas de juros "básicas" do mercado, caíram os juros que o "mercado" pede para ficar com papéis do governo, o dólar deu uma acalmadinha, os títulos da dívida externa do governo deram uma respirada e até o preço das ações da arrebentada Eletrobras subiu, embora apenas alguns degraus do buraco profundo do inferno onde rasteja.

Qual o motivo da baixa da febre, de muito alta para alta? Especulação político-financeira, claro, em parte, e compras de papéis na xepa, na baixa. Especulava-se entre os povos do mercado que, dado o tamanho da encrenca na Petrobras, na política e o diabo, Dilma Rousseff tenderia agora mais para a "hipótese capitulação", nas palavras de um financista.

Isto é, a presidente estaria agora mais pressionada a escolher um ministro da Fazenda que teria ideias e poderes independentes para tocar a política econômica. Quer dizer, independente de Dilma Rousseff. Se isso é fato, sabe-se lá, mas era a especulação entre os povos dos mercados e jornalistas que lidam com o assunto. No Ministério da Fazenda, enquanto se apaga a luz dizia-se ontem que Dilma quer nomear o novo ministro até sexta-feira, amanhã.

Houve também quem interpretasse as últimas declarações de Aloizio Mercadante sobre ajuste fiscal como um recuo em relação às frases impressionantes que o ministro-chefe da Casa Civil soltava até a semana passada, antes da "Juízo Final".

Isto é, Mercadante, atual escudeiro econômico da presidente, desde ontem estaria repassando a "boa nova" de "maior rigor" com gastos, levando a "mensagem do Palácio" para a audiência interessada, de público ou nos bastidores. Diretores do Banco Central falando mais grosso sobre inflação compuseram o quadro da "hipótese capitulação".

Era a especulação de ontem.


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