A GENTE ESPERA que o clima e o ambiente de fim de festa ruim destes últimos dias do primeiro governo de Dilma Rousseff seja apenas isso mesmo, o fim do primeiro mandato quase vencido, e não o começo de Dilma 2. O governo-em-transição enrola-se ao lidar com coisas das mais simples às mais complexas, que ficam complicadas.
A barafunda política aumenta. O descrédito das contas do governo cresce, mais uma prova de que não existem absolutos. A maior empresa do país, a Petrobras, desfalcada, superfaturada, corrompida e investigada pela Justiça de vários países, nem balanço apresentou até agora. As taxas reais de juros sobem.
O governo enrola-se ao organizar um processo tão comezinho quanto a demissão dos ministros do governo que se encerra, o que deveria ser apenas protocolar e irrelevante, mas que acabou por aumentar o nível de ruído político.
Enrola-se ainda mais com problemas graves, tais como o descalabro das contas públicas. Depois de dar a ligeira e, agora se vê, breve impressão de que cuidaria dos desarranjos econômicos mais urgentes e aflitivos, a presidente e seus auxiliares restantes dizem que está tudo bem, que o governo do Brasil está em uma situação confortável, das "melhores" entre os países de maiores economias do mundo. Enquanto isso, o Tribunal de Contas da União divulgava estudo que acabava por tripudiar a aritmética fantasista da contabilidade federal em 2013.
Mesmo depois da série de balanços calamitosos das contas do governo, as declarações da presidente e de seus ministros causaram consternação até em críticos cínicos do seu governo. A especulação barata e juvenil com rumores sobre o nome do novo ministro da Fazenda e, mais relevante, a impressão de alheamento da realidade que transmite o governo-em-transição estão custado caro.
As taxas reais de juros sobem.
Sim, a presidente reeleita tem o seu tempo e tem direito a tempo para organizar uma nova equipe, mesmo permanecendo no cargo, mesmo sabendo desde o início do ano que trocaria o ministro da Fazenda. Não se trata de atender as ansiedades jornalístico-mercadistas. O problema não está aí.
A impressão que fica desses dias iniciais de governo-em-transição é que o governo, agora ainda mais restrito à presidente e seus botões, não é capaz de administrar expectativas, de se antecipar aos problemas mais óbvios.
Ressalte-se: a aprovação de um remendo legal que dê conta do fato de que o governo estourou suas contas se transforma em tumulto no Congresso, agravado pelas mensagens de que se pretende continuar gerindo o dinheiro público na mesma toada de 2012-2014, o que é receita certa de encrenca.
Decerto tudo isso pode passar. A presidente pode apresentar um plano de transição ao menos para a sua transição. Pode dar indícios de que enfim vai ter uma equipe, ao menos para apagar os incêndios de agora e os que brotarão nos próximos meses. Pode. Mas até agora dá a impressão de que apenas ela sabe de seu governo, que centraliza todas as decisões, que não está propensa a rever nem os aspectos mais daninhos da sua política econômica.
Não se trata de questão de gosto, de picuinhas. Isso está custando caro. As taxas reais de juros sobem.