Folha de S. Paulo


Quem quer ser ministro

Pode ser que Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, tenha sido convidado por Dilma Rousseff para ser ministro da Fazenda. Pode até ter aceito ou recusado, e apenas a presidente e o executivo saibam disso. Nas cercanias de Dilma e Lula as histórias sobre a formação do governo são quase todas tão díspares que é possível acreditar em qualquer coisa e nada.

O que mais se ouve parece óbvio e genérico: o ministro da Fazenda virá do setor privado, não é dos empresários próximos do governo, provavelmente será do setor financeiro.

Ouve-se que Henrique Meirelles "é totalmente passado" e "politicamente inviável", devido a atritos passados com Dilma, porque sua nomeação sugeriria "ingerência excessiva" de Lula no novo governo (Meirelles foi presidente do BC sob Lula) e, enfim, porque suas ideias diferem demais do que pensa a presidente.

Pessoas relevantes do PT paulista dizem que Lula, de resto, nem tratou de equipe econômica com Dilma, que de resto estaria avessa a qualquer conversa sobre o assunto, por ora. Mas sabe-se lá se Lula, sozinho no seu canto, ligou para a presidente.

Há os absolutamente descrentes da hipótese Trabuco, e há quem diga até que ele levaria para o governo o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. Barros é um economista ponderado, que desacredita alarmismos sobre a economia brasileira e que jamais criticou o governo de modo agressivo.

Quase tudo soa especulativo ou, quando não, lances para minar as possibilidades deste ou daquele nome. Um petista diz ainda o seguinte sobre Trabuco: "Ele é ótimo. Mas pode ser que tenham lançado o nome dele para ver se acalmava o mercado".

Outros descrentes apontam a dificuldade de nomear "um banqueiro", depois do que o PT disse na campanha. Lembre-se, enfim, que Trabuco foi "cotado" para assumir o Banco Central de Dilma 1.

No "mercado", ouviu-se mesmo que Eduardo Loyo, diretor do banco BTG Pactual, poderia ser um nome para o Banco Central.

Mas petistas e gente do governo dizem jamais ter ouvido tal coisa. Loyo é um economista respeitado, foi diretor do FMI e da Casa das Garças, centro de pesquisa que junta muitos economistas ligados ao PSDB, "liberais". Seu nome estava na lista de especulativa de um possível governo Aécio Neves.

Outro nome citado faz meses, como tanto se sabe, é o de Nelson Barbosa, professor da FGV-SP, que foi secretário de política econômica da Fazenda (sob Lula) e secretário-executivo (sob Dilma). Já negou de público que voltaria ao governo. Instado a falar do assunto, Barbosa faz uma expressão de aflição entre impaciente e irritada. Colegas dizem que ele fica professor.

Dado o estilo de Dilma Rousseff, fechado, centralizador etc, e dado o tamanho da encrenca atual de escolher um ministro da Fazenda, a temporada de especulação parece mais vaporosa do que de costume.

Pode ser que a presidente, como gosta de dizer, ainda esteja conversando com seus botões ou vá meditar na areia da praia onde tirará férias. Ou, quem sabe, ela já tem seu ministro desde que anunciou que Guido Mantega deixaria o cargo, em setembro.


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