Folha de S. Paulo


Alta de juros e impostos

A inflação acumulada em doze meses passou de 6,51% em agosto para 6,75% em setembro. O aumento de dois décimos obviamente não vai causar revolta popular. Também não basta para tornar, por enquanto, ainda pior a avaliação de uma política econômica que conseguiu produzir crescimento quase zero com inflação resistente em níveis preocupantes e além do mais maquiada por controles de preços insustentáveis. Por enquanto. O próximo presidente vai ter de lidar com uma carestia cada vez mais complicada e custosa de abater.

A inflação acumulada ficou perto do previsto no mais recente Relatório de Inflação do Banco Central, publicado no final de setembro, estimada em 6,6%. Mas, para começar, as projeções do Banco Central, e não apenas por lá, pressupunham uma taxa de câmbio, o "preço do dólar", mais comportada, em torno de R$ 2,25. Dólar mais caro, em tese e tudo mais constante, pressiona os demais preços para cima.

Por enquanto, temos visto o dólar variando em torno de R$ 2,40. Dadas as cambalhotas costumeiras do mercado de moedas e as reviravoltas que temos visto desde pelo menos maio do ano passado, é muito difícil saber se o câmbio vai se acomodar nesse nível, se vai baixar ou dar outros saltos. Mas a previsão do tempo não é de calmaria, dadas as mudanças importantes na economia mundial.

Isto é, trata-se da tão especulada mudança da política monetária americana (alta de juros, menos capital sobrando no mundo), do ritmo menor de crescimento chinês, da queda do preço de produtos importantes das exportações do Brasil, todos em tese fatores de desvalorização do real. Problemas econômicos domésticos aliados às incertezas típicas de mudança de governo devem contribuir para o encarecimento do dólar, pelo menos até o fim da eleição, do ano ou talvez até bem entrado o ano de 2015, a depender da política econômica insinuada pelo próximo presidente.

Um problema de tolerar uma inflação rondando os 7% por muito tempo pode ser até político. A julgar por pesquisas de percepção da situação econômica dos últimos anos, a insegurança econômica, para não dizer irritação, costumava a aumentar com inflação acima de 6%, mais ou menos a depender da alta de preços de comida e bebida, que aliás voltaram a incomodar de novo, pelos dados de setembro.

Um outro problema, claro, é que o custo de conter a alta de preços aumenta com a alta e a persistência da inflação. Além do mais, uma atitude tolerante, para não dizer negligente, do próximo governo vai deteriorar ainda mais as expectativas -e não apenas de inflação.

Em suma, a alta da inflação por ora parece marginal, mas vai reduzindo o espaço e o tempo de manobra do presidente que assumir em janeiro. Em geral, é possível manter a inflação sob controle com uma combinação de controle de gastos públicos com taxas de juros. Mas não há nem tempo nem meios para tentar segurar preços com política fiscal (gastos), dada a miséria da arrecadação de impostos e despesas obrigatórias, embora metas críveis para o deficit e um aumento de impostos pudessem ajudar.

O trabalho todo vai sobrar para a taxa de juros. Ou vai sobrar coisa pior.


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