Folha de S. Paulo


Empregados até a eleição

O desemprego no Brasil da eleição de 2014 é o mais baixo da história de que se tem notícia, ou por aí. Estritamente, os números são comparáveis até 2002, embora por várias outras medidas dê para suspeitar que é o mais baixo em décadas.

Não aconteceu nem mesmo o discreto aumento da taxa de desemprego previsto para este ano, ou pelo menos a partir da metade do ano. Como tantas vezes já se disse, no entanto, o número de pessoas empregadas nas grandes metrópoles não cresce desde setembro do ano passado; a taxa de desemprego não aumenta porque menos gente procura trabalho, coisa muito sabida também faz quase um ano.

Desempregado não é quem está sem trabalho, mas quem procura e não encontra emprego. Quem deixa de querer trabalho deixa de fazer parte da população economicamente ativa (PEA).

Os números do mercado de trabalho divulgados ontem pelo IBGE no entanto indicam algumas ligeiras mudanças e a deterioração muito lenta e gradual da situação do emprego.

No que diz respeito a faixas de idade, a proporção maior dos que deixam a PEA ainda é a daqueles entre 18 e 24 anos. Mas, em termos absolutos, a massa maior de abandono do mercado é a da população entre 25 e 49 anos. Até então, aparentemente vinha aumentando a quantidade dos "nem-nem" (jovens que não estudam nem trabalham) e também de jovens que não trabalhavam em tese por um bom motivo: para estudar, em parte porque suas famílias tinham uma renda mais folgada.

Mais importante, no entanto, ressalte-se, é o fato de que a população empregada nas grandes metrópoles não cresce desde setembro do ano passado. Note-se que a população ocupada crescia ao ritmo anual de 2% em 2011-2012 e de 3% de 2006 a 2008.

Sim, dados de outras pesquisas (Pnad Contínua), no entanto já antigos, referentes ao início do ano, mostravam que a população empregada crescia no restante do país, embora a gente não saiba da qualidade desses empregos, pois a Pnad trimestral ainda não divulga dados de rendimento.

Ainda assim, os sinais de resfriamento vagaroso aparecem por toda parte, como na criação de empregos formais (segundo os registros do Ministério do Trabalho). No aumento cada vez mais lento do rendimento médio e da massa de salários nas grandes metrópoles.

Não há como o país crescer com estagnação ou crescimento lento da população empregada e com o aumento pífio da produtividade. O governo de Dilma Rousseff argumenta, porém, que o país chegou ao fim de um ciclo ruim no conjunto da economia sem sacrificar empregos. "O pior já estaria passando", sem sacrifícios sociais, segue o argumento.

Note-se que o nível de emprego foi em parte "comprado" com inflação e subsídios bancados por aumento da dívida pública; o investimento declina e a confiança empresarial está em níveis deprimidos; na presente situação, não há como ampliar a despesa do governo. Não se sabe muito bem como o país, a produção, pode voltar a subir nessa situação -seria um caso de sair do chão puxando os próprios cabelos.


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