Folha de S. Paulo


O dólar perto da urna

O dólar foi a quase R$ 2,40 e o Banco Central não deu trela para a especulação prática ou verbal do pessoal do mercado.

Parte da turma está nervosa porque o BC não deu o sinal em tese esperado de que tomaria atitude a fim de evitar que a moeda norte-americana chegasse ao teto da "banda cambial informal" (de R$ 2,20 a R$ 2,40).

Há quem especule que o Banco Central está inerte e mudo porque não quer criar "ruído" com a eleição tão próxima, o que daria motivo sobre fofocas eleitoreiras a respeito de instabilidade no país. Há especulações politizadas ainda mais malucas. Mas passemos.

Quanto às interpretações menos incontroversas a respeito do que se passa no mercado de câmbio, não há novidade.

Apesar de liderar as baixas, o real desce ao menor nível em seis ou sete meses como várias outras moedas de países ditos "emergentes", em especial aqueles com inflação e deficit externos maiores (os "frágeis").

O real baixa por causa da especulação sobre a mudança da política monetária (juros) nos EUA. Ou na companhia de moedas que variam com as perspectivas do preço de commodities (como o dólar australiano), na média no pior nível em uns cinco anos. O crescimento menos veloz da China derruba preços de minérios, por exemplo. Ontem foi dia de fofoca sobre o assunto, pois uma autoridade chinesa disse que não vem ao caso dar vitaminas adicionais à economia.

A queda do preço do minério de ferro derruba tanto o dólar australiano como o preço das ações da Vale. Neste ano, de janeiro a agosto, o preço médio do minério exportado pelo Brasil esteve 15% abaixo da média do ano passado.

Pode ser que esteja dando o fora aquele pessoal que a partir de fevereiro, março, veio ao Brasil fazer uma grana com a diferença entre juros brasileiros e os do mundo rico.

Já puseram dinheiro na caixinha e, agora, podem perder um tanto, dados os riscos de desvalorização devido ao conjunto de turbulências possíveis (eleição no Brasil, juros nos Estados Unidos, China etc.).

Enfim, apesar da queda de 6,5% do real neste mês, não há por ora sangria desatada. Francamente, o dólar a R$ 2,40 até que está baratinho, dada a nossa situação econômica.

Além do mais, é bem possível duvidar que uma intervenção maior do BC no mercado futuro de câmbio, como tem sido o caso desde agosto de 2013, faça grande diferença. Uma intervenção no mercado à vista, por sua vez, teria um certo ar estabanado ou até de desespero.

Ainda assim, não é injustificada a curiosidade sobre o que o BC vai fazer -e os efeito de sua ação na disputa eleitoral. Haveria um novo "teto de tolerância" (digamos, R$ 2,50)? O candidatos a presidente fariam chacrinha eleitoreira se o dólar fosse muito além de R$ 2,40 ou caso o BC interviesse?

Como se sabe, a campanha eleitoral está tensa, sujinha e odienta. Qualquer acontecimento pode ser pretexto para atirar no pé do adversário. Ou nos próprios pés, se a esperteza for grande demais, como foi, por exemplo, o caso de Dilma Rousseff com o Banco Central independente de Marina Silva, uma espécie de afirmação pelo avesso de que a presidente quer intervir em tudo.


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