Folha de S. Paulo


A travessia até 2016

A inflação vai chegar quase perto da meta lá pelo final do primeiro semestre de 2016, estima o Banco Central do Brasil.

Sim, em 2016, daqui a dois anos, a inflação estará perto de 5% ao ano, mantida a presente taxa "básica" de juros (11% ao ano), supondo-se que o dólar fique mais ou menos onde está, em torno de R$ 2,25, e que a economia cresça 1,6% neste 2014.

O crescimento baixo da economia, aquém do dito potencial, faria o resto do serviço de levar a inflação dos atuais 6,4% ao ano para 5,7% no final de 2015 e 5% ao ano na metade de 2016.

É o que se depreende do Relatório de Inflação, documento em que o BC analisa trimestralmente o estado da economia e indica qual deve ser o caminho da política monetária (o que fazer da taxa de juros "básica"), divulgado ontem.

Hum. Pode ser, sabe-se lá. Mas há um sentimento muito disseminado de que:

1) Como a inflação está faz muito tempo na casa de 6% e assim deve ficar até quase pelo menos o início de 2016, quem pode está chutando seus reajustes (preços e salários) para pelo menos 6%, o que tende a tornar a inflação mais resistente, para dizê-lo em termos corriqueiros;

2) Como vários preços de serviços públicos estão reprimidos pelo governo, algum ou muito aumento deve espirrar depois da eleição e em 2015: combustíveis, eletricidade, tarifas de transporte, por exemplo.

Parte desses aumentos está embutida nas previsões de inflação, decerto, mas parte não está, não se sabe bem o efeito em cadeia desses aumentos e, por descrença da inflação na meta, na dúvida chuta-se a estimativa de inflação para cima;

3) O preço do dólar vai ficar mesmo em R$ 2,25 até meados de 2016. Pode ser.

Desconsiderando-se no momento os problemas decorrentes de um real assim valorizado, note-se que daqui até 2016 vai haver mudança na política econômica americana (os juros devem subir, o que deve causar algum tumulto financeiro no mundo, com alta do dólar por aqui).

Nas estimativas apresentadas pelo Banco Central, o grosso da inflação cai mesmo no primeiro semestre de 2016.

Como a taxa de juros básica fica em 11% até lá e a "memória" de uns oito anos de IPCA em torno de 6% ao ano, parece que se espera um crescimento de medíocre e pífio até meados do próximo governo. Algo abaixo de 2%, decerto.

Pode ser que, com real forte, a R$ 2,25, e custos em alta, parece que a indústria terá de ser um tanto mais arruinada a fim de que a carestia diminua.

No caminho até 2016, acredita o BC, o consumo cresceria mais devagar, sendo o parco crescimento econômico derivado do aumento do investimento. Indústria (!) e agricultura cresceriam mais que o setor de serviços, onde mais têm aparecido empregos faz uma década.

Isto é, trata-se de um cenário de aumento ainda menor do consumo e de contenção do setor que tem criado empregos, isso num ambiente de inflação perto de 6%, que tem deixado o eleitorado de mau humor.

Caso esse prognóstico esteja correto, é bem provável que a insatisfação política continue a ferver em fogo brando.

Assim como a inflação, em fogo médio-alto.


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