Folha de S. Paulo


Ser otimista, hoje em dia

Alguns economistas fora do governo ainda fazem previsões otimistas para o crescimento da economia neste ano. "Otimistas" nos devidos ou tristemente indevidos termos.

O pessoal da FGV do Rio, do Ibre, estima que o PIB cresça 1,6% neste 2014. Segundo a centena de estimativas privadas recolhida semanalmente pelo Banco Central divulgada ontem, o país deve crescer 1,2%.

Alguns grupos de economistas, nem se trata de gente descabelada, preveem 1%. Estagnação, em termos per capita (levando em conta o crescimento da população, a produção ou a renda nacionais não terão crescido nada).

Essa diferença de meio décimo nas previsões e na realidade tem alguma importância apenas no curto prazo, não diz grande coisa sobre o futuro da economia. De ponto de vista político e social, estimar eventual tombo do PIB pode ter interesse maior. Assim, é relevante saber se o colapso na confiança de consumidores e empresários, que vem desde março, é ou não transitório.

Pode ser que essa piora adicional e rápida do humor de consumidores e empresários tenha sido provocada por protestos, greves, tumultos e perturbações devidas à Copa. Logo, isso pode passar. Como disse ontem Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, em seminário na FGV, a expectativa de piora é tão grande que, ao não se confirmar o pior, a melhora de humor possa ser quase tão intensa. É, pode.

Até agora, as pesquisas que medem opiniões a respeito do estado e do futuro da economia registram sentimento tão ruim quanto o verificado no ano de ligeira recessão de 2009 (a economia encolheu). De 45 segmentos do empresariado da indústria e dos serviços pesquisados pela FGV, em 82% houve piora do humor em maio, um sentimento espraiado de desânimo, em geral indicador prévio de retração da atividade econômica.

Do mesmo modo importante é entender o que se passa no mercado de trabalho. Como já se escreveu nestas colunas, chama a atenção do pessoal da FGV o descompasso entre as pesquisas de emprego do IBGE.

Em uma delas, a tradicional Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que trata de seis grandes regiões metropolitanas, faz seis meses o número de pessoas empregadas parou de crescer (quando se compara cada mês com seu equivalente no ano anterior).

Na nova Pnad Contínua, que começou a ser divulgada no início deste ano, o número de pessoas empregadas cresce, e cresce bem (menos na região Sudeste). A Pnad Contínua é um levantamento trimestral muitíssimo mais abrangente, que cobre cerca de 3.500 cidades. No entanto, ainda não publica dados de salários. Logo, a gente não sabe lá muito bem que tipo de emprego e qual rendimento conseguem as pessoas que estão engrossando a população ocupada, segundo a Pnad.

Ainda assim, os economistas do Ibre acreditam que, tomados em conjunto, os indicadores da PME, da Pnad e os do Caged (registro administrativo de emprego formal) sugerem um mercado de trabalho ainda bem aquecido, com o que fica difícil prever uma queda significativa de salários, na média, e menos ainda uma alta ruim do desemprego. Isto é, em tese, um esteio que pode evitar colapso da economia neste ano.


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