Folha de S. Paulo


O Brasil é feio, mas está na moda

O Brasil está em alta na coleção de outono do mercado financeiro. Ou melhor, na coleção de primavera, pois os estrangeiros estão mais animados do que os locais. A animação dos donos do dinheiro grosso ficou óbvia. O dólar caiu a R$ 2,20; a Bolsa subiu da cova onde jazia em meados de março. O tutu voltou a entrar, mas nada mudou na Pátria Amada. O Brasil continua feio, mas voltou à moda, parafraseando sucesso antigo da poeta funkeira Tati Quebra-Barraco.

Uma história exemplar desse revertério é a mudança de opinião da Pimco, a empresa da Califórnia que administra a maior dinheirama do mundo aplicada em títulos de dívida. O Brasil agora estaria tão barato que investir aqui vai dar dinheiro, afirmou um dos vice-presidentes da Pimco, Mark Kiesel, em relatório. Em 15 de janeiro, o presidente da mesma Pimco, o bilionário e lenda das finanças Bill Gross, dizia que o Brasil não era mais prioridade, que tiraria dinheiro daqui.

No ano passado, a Pimco quebrou a cara no Brasil. Não acreditou que o real e os preços de títulos da dívida do governo fossem se desmilinguir devido à mudança da política monetária dos EUA; ficou em primeiro lugar na fila do calote da OGX de Eike Batista.

A Pimco nem de longe é novata em Brasil. Quando a finança estava em pânico ou especulava com a vitória de Lula em 2002, a Pimco acreditou que o tumulto passaria. Comprou dívida do governo baratinho, pela metade do preço, pois "todo o mundo" vendia ativos brasileiros em baciadas; o dólar chegaria a R$ 4. Na época, estrelas da finança como George Soros e Mark Mobius achavam que o governo quebraria. Não quebrou. A Pimco ganhou um bilhãozinho de dólares, por aí.

No mês passado, Kiesel e assessores passaram quatro dias no Brasil. Falaram com governo, investidores e grandes empresas. Ao final da viagem, se fizeram e responderam as seguintes perguntas (reformuladas em termos mais humanos):

1) As "apostas do mercado" para o nível de juros, por exemplo, estão exageradas, dada a situação da economia "real" e das contas do governo? Isto é, a situação dos "fundamentos" está assim ruim? Não, provavelmente está melhor;

2) As "apostas do mercado" vão ser de alta em relação ao nível atual? Sim;

3) O sentimento do investidor em relação ao Brasil vai melhorar? Sim.

No resumo de Kiesel, o mercado "exagerou" no pessimismo, dadas as perspectivas de médio prazo do país e suas defesas (muitas reservas em dólar e pouca dívida externa). Além do mais, o clima ficou tão ruim, com Dilma Rousseff em baixa nas pesquisas, baixa da nota de crédito e protestos, que o governo pode mudar.

Mais importante, a taxa de juros do Brasil voltou a ser uma das mais gordas do mundo, altas demais (sic) para um país que cresce tão pouco, escreveu Kiesel.

Está bom de comprar dívida pública (emprestar ao governo), ações de bancos que melhoraram seus balanços mesmo numa economia fraca (Itaú e Bradesco) e até Petrobras.

O tumulto pode voltar? Improvável, pois a política monetária americana, o Fed, seria agora mais previsível. De resto, juros altos e intervenções do Banco Central do Brasil no câmbio protegeriam o país.

São "eles" que estão dizendo.


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