Folha de S. Paulo


Campanha eleitoral no mercado

O povo dos "mercados" tem uma união instável ou um casamento dos infernos com Dilma Rousseff. Os donos do dinheiro espinafram o governo na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. Mais ainda agora, em que parece ter começado a campanha eleitoral na praça financeira.

Os dias têm sido tão animados na economia que há explicações para tudo e seu contrário num nível de disparate maior do que o habitual.

Considere-se o caso da Petrobras.

Na semana passada, o preço das ações da empresa subia na maré de um mercado crente em que a oposição avançava nas pesquisas eleitorais. Desfeito o rumor, as ações da petroleira continuaram em alta. No começo da semana, os papéis subiam porque, mesmo o crédito do governo do Brasil sendo rebaixado, "sabia-se" que o crédito da Petrobras não seria degradado. Foi. Mesmo assim, as ações continuaram em alta.

Ontem, o preço das ações preferenciais da Petrobras subiu extravagantes 8%, em tese surfando na onda da queda do prestígio de Dilma, em tese indício de que diminuiu a possibilidade da reeleição, em tese caminho aberto para uma administração mais pró-mercado e lucrativa da petroleira.

Pelo menos tal cadeia de teses foi alardeada por porta-vozes informais do "mercado". De fato, ontem parecia difícil encontrar outra explicação. As ações das "estatais" estariam baratas o bastante para que valesse o risco de comprá-las com base num tropeço menor de Dilma nas pesquisas, mesmo que na semana passada se tenha sabido que, por ora, a presidente vence no primeiro turno.

Ontem, tal fio de esperança especulativa foi suficiente para compensar várias notícias que, em outros dias, azedariam o humor dos "mercados". Por exemplo:

1) As notícias fiscais, os gastos do governo, continuam ruins, embora ainda dentro do nível de frustração esperado com a meta oficial;

2) A pesquisa de emprego do IBGE mostrou que os salários ainda crescem o bastante para manter a inflação flutuando no alto dos 6%, embora a massa salarial cresça num nível compatível com um crescimento fraquinho, abaixo de 2% ao ano, pois menos gente trabalha;

3) No Relatório de Inflação do Banco Central, a inflação estimada aumentou e o crescimento diminuiu, como não poderia deixar de ser, dados os dois itens anteriores.

Decerto, houve mais notícias que alegraram quem quer fritar Dilma. Tornou-se muito provável uma CPI da Petrobras, cortesia das lambanças políticas e econômicas do governo.

Ainda assim, o tropeço de Dilma não parece ser motivo de tanta alegria. Faz algumas semanas, a onda especulativa com o Brasil trocou de sinal. Entra dinheiro, o dólar despenca (com o auxílio do BC) e até a Bovespa sai um pouco do coma. Os juros de longo prazo baixaram nos Estados Unidos, os daqui subiram, há oportunidades na xepa de ativos brasileiros.

No entanto, isso não tem como durar, a não ser que de fato Dilma role a ladeira das pesquisas. A valorização do real vai encarecer o Brasil (ativos financeiros e bens), vai chamar a atenção para o deficit externo, vai aumentar o risco de que os mercadores de dinheiro tomem um tombo na próxima rodada de alta de juros e tensão nos EUA, que virá.

Mas, enfim, o que há com as ações da Petrobras?


Endereço da página: