Folha de S. Paulo


Expectativas para a economia estão desvalorizadas pela política

Marlene Bergamo - 2.dez.17/Folhapress
O presidente Michel Temer, entre o governador Geraldo Alckmin e o ministro Henrique Meirelles (fazenda), em Limeira (SP)
O presidente Temer, entre o governador Alckmin e o ministro Meirelles (Fazenda), em Limeira (SP)

Um curioso fenômeno foi registrado pouco antes do segundo turno da eleição de 2014. As expectativas da população quanto ao desempenho da economia, que rumava para a depressão inflacionária, tiveram súbita e aguda melhora.

O Datafolha, que mediu e documentou a brusca oscilação, e esta Folha, que a publicou, foram na época alvos de uma onda gigantesca de ataques, no estilo "esfole o mensageiro". Estampava-se ali a centelha de esperança popular, inoculada pelo agressivo marketing governista, sem a qual Dilma Rousseff não teria obtido os votos necessários para sua reeleição.

Como o embuste tornou-se patente logo após o pleito, a reversão das expectativas foi colossal. Em fevereiro de 2015, 81% dos eleitores brasileiros achavam que a inflação iria aumentar, mais que o triplo do indicador apurado três meses antes.

Ao longo da breve segunda gestão Dilma, o alerta inflacionário médio atingiu 77% dos consultados. Após a troca do governo, a fatia dos que preveem preços futuros em alta caiu 18 pontos percentuais.

Ainda assim, há um contraste entre, de um lado, os 60% dos brasileiros que hoje anteveem inflação em alta –ela provavelmente vai crescer, pois caminha nos níveis mais baixos em 23 anos– e, do outro, os 52% que, em média, faziam essa avaliação no primeiro mandato de Dilma, antessala de violento repique inflacionário.

O palavrório financeiro costuma chamar de "prêmio" a diferença de preço que ocorre entre dois investimentos da mesma classe. Pois aqui a política parece ter estabelecido prêmios a favor do governo em outubro de 2014, e contra ele agora.

As expectativas para a economia, que já iniciou retomada cíclica, descolam-se do desdobramento provável. Dilma ofereceu esperança efêmera daquela feita. Hoje a rejeição a Michel Temer desloca as conjecturas sobre o futuro para baixo da linha projetada da atividade econômica.


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