Folha de S. Paulo


Eleição de 2018 não ocorrerá nas condições de hoje

Adriano Vizoni-19.mar.2014/Folhapress
O apresentador e empresário Luciano Huck

SÃO PAULO - Muitas avaliações sobre o futuro político do Brasil pecam por simular o que seriam eleições federais e estaduais travadas nas condições de hoje. Menosprezam o fato de que variáveis fundamentais vão mudar ao longo dos 18 meses até o pleito de 7 de outubro de 2018.

No atual abismo da depressão econômica e do descrédito com políticos tradicionais, a taxa de renovação e surpresas no certame eleitoral seria provavelmente alta.

O ambiente tenderia a selecionar um alienígena, relativo como João Doria ou absoluto como o apresentador Luciano Huck, para rivalizar com Lula, o mais popular, porque sustentado num sebastianismo nordestino, dos candidatos tradicionais. A comparação entre o novo e o velho seria barreira difícil de superar para o petista.

A política tradicional, entretanto, ainda governa. A maioria de centro-direita no Congresso, em certos temas de sobrevivência associada à centro-esquerda, dispõe de instrumentos capazes de, no ano e meio até a eleição, evitar que a disputa ocorra nos extremos da incerteza de hoje.

A trajetória da economia, já em fase de recuperação cíclica, poderá ser catalisada pela aprovação do núcleo da reforma previdenciária. As regras da eleição, se forem alteradas, tendem a ser ainda mais favoráveis aos oligarcas que chefiam as legendas e aos detentores de mandato.

A ansiedade com a iminente divulgação das delações da Odebrecht em poucos meses se converterá em cinismo crônico, diante da percepção de que será longo e singular, embora inevitável, o caminho até a etapa decisiva de cada processo.

Quanto mais coordenada for a resposta da maioria legislativa, mais o jogo eleitoral de 2018 parecerá "business as usual". Hoje Michel Temer exerce o papel de coordenador dessa turma. Se for cassado no TSE, a turma conserva o poder de determinar, em eleição indireta, quem será o sucessor para terminar o mandato.


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