Folha de S. Paulo


Política vai mudar; questão é saber se para melhor

Eduardo Anizelli/Folhapress
Manifestação do movimento Vem pra Rua na avenida Paulista, em São Paulo
Manifestação do movimento Vem pra Rua na avenida Paulista, em São Paulo

A guerra é a continuação da política, mas por outros meios, escreveu Clausewitz. No conjunto das provas da Lava Jato revela-se, ou confirma-se, que as empreiteiras no Brasil eram a continuação do Estado, mas por outros meios.

O verbo colocado no passado não transpira otimismo descolado dos fatos. O ambiente político-popular e institucional dominante no Brasil desde 2013 provavelmente terá trucidado esse modelo de predação oligárquica das rendas nacionais.

A pedra fundamental de uma reforma política com alto potencial de impacto está, portanto, assentada. Os guichês usuais do financiamento da atividade eleitoral foram fechados e não serão reabertos.

Os políticos eleitos poderão até ser os mesmos de sempre, na hipótese conservadora, mas seus compromissos para o exercício do mandato serão outros.

Afirmar que "serão outros", obviamente, não significa dizer que serão melhores do ponto de vista do interesse da sociedade. Daí a importância do debate, frenético no círculo político, sobre as regras a adotar para as próximas rodadas eleitorais.

Deixar tudo como está seria a resultante de insolúvel discórdia entre os congressistas acerca do rumo a tomar. Nesse caso, será ociosa a discussão sobre instituir a lista fechada, aquela formulada e ordenada pelas lideranças partidárias e entregue ao eleitor como fato consumado.

Os donos das legendas terão, de qualquer modo, cada vez mais poder de vida ou morte sobre as candidaturas, se não como imperadores das listas, ao menos como canalizadores da maior fonte remanescente de recursos, o fundo partidário.

Conferir tamanho poder a esses caciques significará transferir, das empreiteiras para os cartórios partidários, o problema sem necessariamente combatê-lo. O voto distrital, para o qual caminharam os sistemas eleitorais nas nações desenvolvidas, parece ser uma resposta mais razoável


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