Folha de S. Paulo


Ruína das contas públicas do país é uma rara oportunidade

Mauro Pimentel/Folhapress
Protesto de servidores, no Rio, contra pacote de ajuste fiscal proposto pelo governador Pezão
Protesto de servidores, no Rio, contra pacote de ajuste fiscal proposto pelo governador Pezão

SÃO PAULO - O pessimismo voltou a prevalecer nas expectativas de retomada da economia. A profunda debilidade dos fatores de atividade ameaça carimbar a letra L como formato da recessão: queda vertical seguida de estagnação persistente.

É mais ou menos conhecida dos estudiosos a hierarquia das crises econômicas pelo critério da capacidade e da velocidade da recuperação. No topo da pirâmide costumam situar-se as derrocadas provocadas por mergulho nos preços dos imóveis e inadimplência hipotecária generalizada, como a ocorrida na década passada no mundo desenvolvido.

Talvez seu paralelo do lado de cá da linha do Equador, onde os empréstimos imobiliários disseminam-se bem menos, sejam as chamadas crises fiscais, os impasses sobre o financiamento do Estado. É disso que se trata, neste momento, no Brasil.

No início da Idade Moderna, o reino da Inglaterra mal fazia sombra ao poderoso e rico império colonial espanhol. As respostas diferentes dessas nações ao mesmo desafio fiscal —de que modo financiar a coroa e o gasto crescente exigido pelas guerras modernas— inverteram o quadro.

A Espanha entrou num longo período de decadência, de que só veio despertar no final do século 20, com a entrada na comunidade europeia e com toda a modernização institucional que dali decorreu.

Por essas e outras, a pesquisa historiográfica caminha para colocar as crises de financiamento do contrato político na fronteira entre o sucesso e o fracasso das nações. A depender de como a sociedade enfrenta esse problema complexo e conflituoso, ela se habilita a atravessar o rio.

A ruína das contas de União, Estados e municípios não é, portanto, apenas sinal de desgraça. Trata-se de rara oportunidade oferecida pela História de o Brasil destacar-se da geleia geral das nações destinadas ao declínio civilizatório secular.

A guerra é dura, mas o butim compensa.


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