Folha de S. Paulo


Garrancho digital não condena texto dos jovens

PALAVRAS E ERROS - Redações de calouros em universidades americanas

Receber um punhado de mensagens diárias de filhos adolescentes no celular pode ser assustador. Exprimindo-se com tantos códigos e atalhos aleatórios, a juventude será capaz de redigir textos eficientes em ambientes formais?

Pesquisas sobre o tema nos EUA ajudam a aplacar a aflição dos pais.

Composições escritas por calouros de universidades americanas em meados da década passada tinham a mesma média relativa de erros formais captada por estudos semelhantes ao longo de um século: a cada cem palavras grafadas, dois erros.

O impacto da difusão das tecnologias auxiliares à escrita parece ter sido outro. O tamanho médio do texto multiplicou-se por 2,5 em relação ao estudo anterior, de meados dos anos 1980, e ultrapassou mil palavras (mais que o triplo desta coluna).

Os erros de ortografia, na era dos corretores instantâneos, ficaram menos frequentes, embora tenham crescido as colocações equivocadas de palavras. Aceite sem refletir o que o software sugere e você às vezes liberará um monstrengo no meio da frase. Deixe de consultar o dicionário e perderá as variantes semânticas.

Os professores hoje cobram mais sustentação fática e referenciais nos argumentos dos jovens alunos. O ensaio subjetivo perdeu terreno. Erros por ausência ou incompletude de documentação passaram a figurar entre os apontamentos mais comuns.

O teste feito nos Estados Unidos sugere, em suma, que os debutantes na universidade de hoje escrevem mais do que os calouros do passado escreviam -sem incorrer em mais erros. São também expostos a desafios intelectuais de maior complexidade.

É difícil replicar esse estudo no Brasil, pois não temos tradição universitária tão longa e densa. A preocupação com as formas de expressão tampouco é a mesma na nossa sociedade. Mas dá para concluir que o modismo digital não reduz necessariamente o desempenho dos jovens nas modalidades cultas da língua.


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