SÃO PAULO - Pela terceira vez desde a redemocratização, os eleitores de São Paulo colocaram na prefeitura um candidato sacado da cartola de um oligarca partidário.
A moda começou em 1996 com Celso Pitta, inventado por Paulo Maluf, reincidiu em 2012 com Fernando Haddad, imposto ao PT por Lula da Silva. Repete-se agora com João Doria, concebido na proveta do tucano Geraldo Alckmin.
A predileção pelos postes, como são apelidados esses afilhados debutantes em eleições, alterna-se com a preferência oposta. Ao longo dos últimos 31 anos, três políticos tarimbados —Jânio Quadros (1985), Maluf (1992) e José Serra (2004)— também venceram a disputa paulistana.
Doria tem uma diferença em relação a Pitta e Haddad, que furaram a fila partidária beneficiados não apenas pelo mandonismo, mas também pela popularidade elevada dos seus patronos à época da indicação.
O Alckmin que movimentou a máquina estadual para assegurar a nomeação e aumentar os recursos eleitorais de seu protegido não é um governador muito bem avaliado pela população. Não se aplica com exatidão a este caso a máxima segundo a qual um político altamente popular elege até um poste por ele indicado.
O triunfo de João Doria pareceu nutrir-se bem mais fortemente da degringolada na reputação dos políticos, em geral, e dos vinculados ao PT paulistano, em particular.
"Não sou político, sou gestor", não se cansou de repetir o novo poste, candidato patrocinado em mais de um sentido pelo governador Alckmin, que sai fortalecido para suas pretensões presidenciais em 2018.
É uma pena o que os próprios políticos fizeram da imagem da profissão. É uma pena a submissão dos dois principais partidos à vontade de velhos chefões. Quando o cacique pode muito e por muito tempo, surge o poste. Quando o sistema projeta descrédito, viceja a ilusão da resposta fácil que vem de fora da política.