Folha de S. Paulo


Em São Paulo, saiu um poste, entra outro

Avener Prado/Folhapress
O empresário João Doria (PSDB), prefeito eleito em São Paulo, comemora a vitória com Alckmin
O empresário João Doria (PSDB), prefeito eleito em São Paulo, comemora a vitória com Alckmin
Fábio Braga-20.out.2012/Folhapress
Haddad entre Dilma e Lula durante o comício realizado no ginásio da Portuguesa, em São Paulo
Haddad entre Dilma e Lula, em 2012, durante comício realizado em São Paulo

SÃO PAULO - Pela terceira vez desde a redemocratização, os eleitores de São Paulo colocaram na prefeitura um candidato sacado da cartola de um oligarca partidário.

A moda começou em 1996 com Celso Pitta, inventado por Paulo Maluf, reincidiu em 2012 com Fernando Haddad, imposto ao PT por Lula da Silva. Repete-se agora com João Doria, concebido na proveta do tucano Geraldo Alckmin.

A predileção pelos postes, como são apelidados esses afilhados debutantes em eleições, alterna-se com a preferência oposta. Ao longo dos últimos 31 anos, três políticos tarimbados —Jânio Quadros (1985), Maluf (1992) e José Serra (2004)— também venceram a disputa paulistana.

Doria tem uma diferença em relação a Pitta e Haddad, que furaram a fila partidária beneficiados não apenas pelo mandonismo, mas também pela popularidade elevada dos seus patronos à época da indicação.

O Alckmin que movimentou a máquina estadual para assegurar a nomeação e aumentar os recursos eleitorais de seu protegido não é um governador muito bem avaliado pela população. Não se aplica com exatidão a este caso a máxima segundo a qual um político altamente popular elege até um poste por ele indicado.

O triunfo de João Doria pareceu nutrir-se bem mais fortemente da degringolada na reputação dos políticos, em geral, e dos vinculados ao PT paulistano, em particular.

"Não sou político, sou gestor", não se cansou de repetir o novo poste, candidato patrocinado em mais de um sentido pelo governador Alckmin, que sai fortalecido para suas pretensões presidenciais em 2018.

É uma pena o que os próprios políticos fizeram da imagem da profissão. É uma pena a submissão dos dois principais partidos à vontade de velhos chefões. Quando o cacique pode muito e por muito tempo, surge o poste. Quando o sistema projeta descrédito, viceja a ilusão da resposta fácil que vem de fora da política.


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