Folha de S. Paulo


A volta da Inglaterra

Tudo começou na ilha invadida por Júlio César, confim noroeste do Império Romano na Antiguidade, ocupada 11 séculos depois pelos normandos.

Na baixa Idade Média, a peste negra destruiu um terço da força de trabalho, tornando-a escassa e cara num repente. Alterou-se a balança da economia a favor dos camponeses, o que favoreceu o relaxamento paulatino dos laços feudais.

Paralelamente, um processo de centralização e controle multivetorial do poder político tomava corpo. Iniciou-se com a Magna Carta, em 1215. Completou-se mais de 400 anos depois, com a chamada Revolução Gloriosa, quando o rei submeteu-se definitivamente ao Parlamento.

Deu-se nessa Inglaterra, e logo espalhou-se para suas colônias norte-americanas e para o continente europeu, a mais profunda transformação das comunidades humanas desde o Neolítico. A miséria material da maioria da população pôde pela primeira vez ser mitigada e superada.

O império da lei sobre todos indistintamente, o livre acesso ao empreendedorismo e à participação política, a garantia firme do direito à propriedade e a responsabilização das autoridades constituíram as bases daquela reviravolta civilizatória.

Poucas atividades são mais típicas desse conjunto de regras do que o livre comércio. Apenas num ambiente de constrangimento impessoal, de confiança assistida no cumprimento das obrigações, é que a troca de mercadorias pode vicejar.

Os ingleses inventaram essa arquitetura, numa evolução milenar cujo desfecho foi muitas vezes posto em xeque. Por que, em sua maioria, os herdeiros desse notável legado optaram nesta quinta por um caminho que ameaça embotar o livre comércio e a própria prosperidade?

Porque os ingleses são livres até mesmo para arruinar-se. Nada está garantido no destino das nações. Estarão sempre nas mãos dos povos a chave do sucesso e a do fracasso.


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