Folha de S. Paulo


O futuro está em greve

SÃO PAULO - Dois efeitos do estrangulamento da macroeconomia e das finanças públicas deveriam preocupar os brasileiros que se frustram com o ritmo do desenvolvimento nacional. Parados estão os investimentos na infraestrutura. Parados estão professores em várias redes estaduais e municipais de ensino.

Nada concorre mais para perpetuar a desigualdade obscena no Brasil do que o fosso entre o ensino dos mais ricos, uma fatia pequena da população, e o oferecido à maioria das crianças e dos adolescentes. As greves nas redes públicas, onde estão matriculados mais de 80 em cada 100 alunos da creche até o fim do ensino médio, agravam o problema.

Filhos de pais das classes altas dispõem de um estoque de capital cultural e social, que se acumula ao longo das gerações, a dar-lhes grande vantagem na largada. Apenas na escola os menos favorecidos poderão receber a compensação pelo que o ambiente familiar não propicia.

Estender a permanência dos alunos da rede pública sob a tutela pedagógica é um modo evidente de a democracia exercer esse contrapeso. O ensino integral, com carga diária mínima de 7 horas, passou a avançar depressa nos últimos anos, mas ainda atinge apenas cerca de 15% dos matriculados no nível fundamental (6 a 14 anos) nas escolas do governo.

Na contramão dessa tendência estão as greves constantes e a elevada taxa de faltas de professores nas redes públicas. A fim de dar sequência ao ciclo de melhoras notáveis na educação brasileira após a democratização, é preciso que governantes e líderes sindicais amadureçam.

Greves e absenteísmo devem ser sobretudo prevenidos mediante negociações adultas, pactos de longo prazo e responsabilização nos dois lados do balcão. Continua barato demais, para políticos e sindicalistas, prejudicar o futuro de dezenas de milhões de brasileiros.


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