Folha de S. Paulo


O consumidor inova

SÃO PAULO - O Banco Central fixou em apavorantes 13,25% ao ano a taxa básica de juros, num ambiente em que a recessão se aprofunda, o desemprego se eleva, e a renda do salário se encurta. A inflação, entretanto, ainda galopa.

A empurrá-la opera um dilúvio de tarifas que haviam sido represadas nos anos anteriores. Os tesouros públicos também cobram a conta da gastança daquele período. A população faz agora uma "contribuição forçada" para a campanha de reeleição presidencial e de governadores, em cifras bilionárias nas quais os honorários dos marqueteiros mal fariam sombra.

Para suportar o peso crescente da conta de luz, do combustível e dos impostos, diminua o biscoito e a cerveja, adie a viagem e a compra do sapato, reduza as visitas ao cabeleireiro e ao "petshop", fuja dos empréstimos. É mais ou menos assim que a chamada política monetária do BC influencia o cotidiano dos brasileiros.

Outras adaptações denotam criatividade nos dois lados do balcão. Cada vez mais famílias, mostrou no domingo (3) esta Folha, articulam-se com vizinhos e parentes a fim de realizar compras coletivas para o lar em estabelecimentos que associam características de atacado e varejo.

O "atacarejo" reduz custos com embalagens, logística, infraestrutura e custeio das lojas. Esse ganho permite a oferta de produtos com preços mais baixos para o consumidor, desde que ele se adapte às compras em volume maior, por exemplo compartilhando-as com outras famílias.

Grandes e médias redes expandem o modelo da loja híbrida há anos, e do Brasil a inovação começa a ser exportada para o mundo emergente. O "atacarejo" não é apenas uma forma de ajuste à relativa escassez de renda. É um rebento interessante da nova sociedade brasileira.

Mostra o poder da livre iniciativa e das escolhas do consumidor na seleção de práticas eficientes.


Endereço da página: