Folha de S. Paulo


A grande farsa

SÃO PAULO - Quem votou em Dilma para presidente sem saber elegeu Joaquim Levy. Tampouco ciente do desfecho, quem marcou o 45 de Alckmin para governador paulista levou Jerson Kelman.

Levy, o ministro da Fazenda, e Kelman, o presidente da Sabesp, são a síntese da eleição de 2014. Trazem para os respectivos governos o desmentido cabal das mensagens falsas veiculadas pelos vitoriosos durante a campanha eleitoral.

"Vai faltar dinheiro" e "vai faltar água" eram pregações dos candidatos derrotados, negadas com insistente desfaçatez pelos postulantes à reeleição. Levy e Kelman não só expressam o diagnóstico oposicionista como também implantam a plataforma defendida por adversários.

Dilma está calada. Alckmin não diz coisa com coisa. Mergulhados em cinismo, fiam-se no passar do tempo para acobertar as irresponsabilidades que patrocinaram. A longos quatro anos do fim do mandato, o ciclo político é um vetor a favorecê-los.

Tudo vai depender da repercussão dessa grande farsa na política brasileira, pois o descrédito atinge PT e PSDB, que há duas décadas duelam pelo poder nacional. Irá além do período de purgação e acerto de contas, não inferior a dois anos?

Com recessão no país e penúria acentuada no Estado mais industrializado e populoso, arranjos políticos alternativos podem receber respaldo popular. Teriam condição de chegar ao segundo turno ou até de vencer as principais eleições, a começar das municipais do ano que vem?

Da esquerda à direita, germinam no país movimentos políticos, alguns relacionados a tendências globais. Ingênuos como tudo o que brota na arena pública, nem sempre iluminados na doutrina e no modo de agir, têm agora a chance de tocar nos problemas crescentes do cotidiano da população. Agradeçam ao vácuo de liderança e responsabilidade deixado pelo PT de Dilma e o PSDB de Alckmin.


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