Folha de S. Paulo


Receita para 20 anos

SÃO PAULO - O PT tem diante de si a mais difícil equação de governo desde que chegou ao Planalto, em 2003. Oposição vigorosa no Congresso e na sociedade, fissuras na base aliada, estagnação prolongada da economia e o escândalo da Petrobras se combinam e se reforçam.

Esse feixe de adversidades se compara ao enfrentado pelo segundo governo FHC. Os tucanos daquela feita fracassaram e deixaram de beneficiar-se do maior bônus econômico já oferecido pela História às nações emergentes. É provável que hoje estariam completando 20 anos no Planalto se tivessem vencido em 2002.

Quem terá a próxima oportunidade de atingir duas décadas no poder serão os petistas em 2018. Para tanto, necessitarão de reforma significativa na estratégia.

Será preciso, por exemplo, acelerar o ajuste recessivo da economia, na expectativa de que, até por efeito comparativo, os dois últimos anos sejam de sensível recuperação. Significa abandonar a doutrina petista da condução econômica e terceirizar esse setor para os liberais –autênticos ou recém-convertidos, tanto faz.

Na política, o realismo indica ao governo promover generosas concessões às siglas aliadas, em detrimento do PT. Em vez de confrontar o peemedebista Eduardo Cunha, a cautela recomenda compor com o candidato a presidir a Câmara no próximo biênio. O objetivo seria zerar o risco de impeachment e impedir debandadas para a oposição ao final da gestão Dilma.

Em suma, para manter-se forte na disputa de 2018, o PT terá de ser menos petista no seu quarto mandato presidencial.

A solidariedade eleitoral oriunda dos programas sociais não é devida nem ao partido, nem à ideologia, nem ao carisma de Lula. É tributária do governo federal. Se uma legenda adversária do petismo vier a presidir o Executivo a partir de 2019, ela terá se tornado a candidata seguinte a permanecer 20 anos no poder.


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