Folha de S. Paulo


O que o voto não muda

SÃO PAULO - Tucanos e petistas engalfinham-se numa briga de baixarias e desinformação. Pelo engajamento dos contendores, parece que muito está em jogo nesta eleição. O país estaria numa encruzilhada, prestes a escolher entre dois caminhos paralelos rumo ao futuro?

Para o bem da sociedade brasileira, essa é uma impressão falsa e passageira. Sem negar as diferenças entre PT e PSDB e a força da Presidência da República, o Brasil é um país grande e suas instituições, fortes o suficiente para impedir guinadas na condução dos assuntos de Estado.

Basta olhar a composição dos orçamentos federais para notar que mais de 90% do jogo está definido de antemão. A democracia já assentou a decisão fundamental de nos tornarmos um Estado de Bem-Estar Social, o maior possível no limite de nossa renda apenas mediana. Nenhum presidente eleito mudará isso.

A década passada mostrou que recursos extraordinários, surgidos em períodos de boom da economia, tendem a reforçar essa teia de políticas sociais. O eleitor médio, que ainda é mal remediado, exige proteção e equilíbrio nas condições de disputa do mercado de trabalho.

A linha de evolução dos programas educacionais confirma o padrão incremental da política pública brasileira. Neles se tem agregado, desde o início dos anos 1990, boa parte do que há de melhor no país e no mundo em termos de conhecimento e práticas de governo.

A bonança econômica possibilitou instituir e aumentar o financiamento federal do ensino básico em Estados e municípios, catapultar o Prouni e o crédito universitário, além de deslanchar um ótimo programa de ensino profissional, o Pronatec.

A evolução desse ciclo promissor de políticas, que combatem as causas da desigualdade de renda, está ameaçada pela reversão dos ventos econômicos, antes favoráveis ao Brasil, e não pela escolha dos eleitores neste domingo.


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