Folha de S. Paulo


Olinda, 1/3/13

SÃO PAULO - Eleição, para o jornalismo político, é como o Carnaval para a escola de samba. As cinzas do desfile que mal acabou simbolizam o início do ciclo seguinte.

Ainda se contavam os votos das eleições municipais de 2012, quando o nome do governador de Pernambuco despontou no horizonte da corrida presidencial dois anos à frente. Eduardo Campos havia tirado da cartola um desconhecido Geraldo Júlio, que humilhara o PT para tornar-se prefeito do Recife.

A fim de tatear os contornos da disputa presidencial, pedi um encontro com o então governador de Pernambuco, que me recebeu em Olinda, no início de março de 2013. Àquela altura, duvidava-se de que o neto de Miguel Arraes fosse romper com Lula e Dilma e enveredar pela senda amarga da terceira via.

Eduardo Campos mostrou-se decidido na conversa. Não desistiria da candidatura nem se Lula, seu padrinho, fosse o postulante do PT. Absorvera, talvez mais por sagacidade que por convicção, boa parte da crítica liberal à condução da política econômica de Dilma.

Queixou-se do gigantismo do BNDES, do descompromisso com metas fiscais e das frequentes intervenções no domínio econômico. Reclamou de que o governo federal repassava para a educação básica em Pernambuco apenas um sexto do destinado ao Bolsa Família.

Parecia então pouco iludido acerca das chances de vitória em 2014, dadas as condições objetivas desfavoráveis para competir. Entendia sua postulação como "disputa política" e pela opinião pública.

Contou de um diálogo seu com Dilma, semanas antes. A presidente teria previsto um futuro político brilhante para ele; estaria um dia sentado na cadeira presidencial.

Não estará. A influência de sua morte nos destinos da sucessão deste ano superará a que poderia exercer se estivesse vivo. É uma conclusão cruel, mas verdadeira.


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