Folha de S. Paulo


Trinta por cento

SÃO PAULO - Desde 1994 sedimenta-se no Brasil, em parte graças ao advento da reeleição, um padrão bipolar nas disputas pela Presidência. Se o PT está no governo, o PSDB apresenta-se como alternativa mais viável. E vice-versa.

Os ciclos longos, de ao menos oito anos no poder, reprimem esboços de terceira via. Para escapar ao magneto do Executivo federal, só um partido enraizado em sindicatos, no serviço público e em movimentos civis, como o PT. Ou outro, como o PSDB, que fora do Planalto consegue liderar governos estaduais em regiões ricas e populosas.

Nesse tabuleiro, a chave para manter-se no poder federal é sustentar níveis mínimos de popularidade na reta final da eleição. Não basta instilar o medo da mudança no eleitor, pois a alternativa a quem está no Planalto já é bastante conhecida e não assusta mais.

Na série do Datafolha, 30% de avaliação ótima ou boa do desempenho presidencial parece ser o divisor de águas entre o sucesso e o fracasso eleitoral. FHC girava em torno disso em meados de 1998 e de 2002. Recuperou-se no primeiro caso e reelegeu-se. Quatro anos depois, baixou para a faixa de 25% e viu sucumbir a candidatura Serra.

A presidente Dilma Rousseff está em situação semelhante. Perdeu oito pontos na popularidade desde fevereiro e agora marca 33%. Se não estancar e inverter depressa a tendência de queda, começará a flertar com a derrota em outubro.

Para complicar a equação governista, a avaliação de Dilma piora no Sudeste (27% de ótimo/bom), com seus 45 milhões de votos, mais de 4 de cada 10 em disputa.

Espera-se uma avalanche de marketing e medidas governamentais voltadas para essa região do país, menos dependente do Estado e mais exposta à economia de mercado. Dilma, apesar da pasmaceira econômica em que navega, ainda tem muitos cartuchos para queimar.


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