Folha de S. Paulo


Adeus, República do Powerpoint

SÃO PAULO - O episódio da compra suspeita e perdulária de uma refinaria nos EUA pela Petrobras desmoralizou o que restava da República do Powerpoint. Foi para o vinagre a imagem de gerentonas insaciáveis de Dilma Rousseff e Graça Foster, a chefe da estatal.

Com ar de quem fica estupefato diante da malandragem revelada, Foster contou a "O Globo" que acabara de descobrir um tal comitê de proprietários, que dava as cartas na refinaria de Pasadena. Esta Folha constatou facilmente que o comitê desfilava cristalino na abertura do contrato de acionistas para a compra da fábrica. Era claro e piscante desde 1º de setembro de 2006.

Graça, obcecada pelas matrizes de múltiplas entradas, pela microgerência e pelo controle corporativo, ainda não sabia? Não sabia dos principais contornos de um negócio suspeito, mesmo tendo assumido a presidência da empresa em fevereiro de 2012? Não sabia, tendo frequentado a diretoria desde setembro de 2007?

Mas a reputação de Graça Foster era só um derivativo, mísera fração centesimal da cultivada por bajuladores sobre sua chefe, a presidente Dilma. Esta sim, a fanática da planilha, a militante da minúcia, a profetisa do debate técnico extenuante, até a sexta casa após a vírgula.

Por que esta Dilma, como chefe do conselho da Petrobras, não pediu o powerpoint detalhado da transação de Pasadena quando o colegiado deu aval à operação? Para mortais comuns do conselho, essa discussão poderia soar pequena demais para avaliar a estratégia de uma empresa multibilionária. Não para a Dilma decantada pelas musas da planilha.

E o que dizer da imagem da faxineira do início do governo? Dilma manteve durante 3/4 de seu mandato um diretor na Petrobras que ela julga responsável por um relatório omisso sobre a refinaria. Num lance patético, alguém se lembrou de demiti-lo retroativamente, por algo que era notório havia mais de sete anos.


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