Folha de S. Paulo


Sem freio, mas com airbag

SÃO PAULO - Faltam três meses para Guido Mantega se tornar o mais longevo ministro da Fazenda da história do país. E, a despeito de um resultado medíocre na economia neste ano e de sucessivas trapalhadas que protagonizou, tudo indica que ele conseguirá bater o recorde.

A tão desnecessária quanto desconcertante polêmica sobre o adiamento da exigência de equipamentos de segurança em carros novos foi o ápice de uma semana em que Mantega anunciou, em evento festivo com empresários, a alta dos juros nos empréstimos do BNDES e disse que a economia brasileira cresce com "as duas pernas mancas".

Dificilmente Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) conseguirão, ao longo da campanha, cunhar uma frase que vá ser tão usada para atingir Dilma quanto essa.

Semanas antes, o ministro da Fazenda foi o responsável por informar à presidente que o PIB de 2012 seria revisado de 0,9% para 1,5%. Dilma "antecipou" o número em entrevista e errou: a revisão ficou em 1%.

Tantos micos tornaram o titular da Fazenda alvo de piadas internas e críticas abertas, como a do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles na Folha, no domingo. Mas, apesar de todo esse retrospecto e da falta de credibilidade da equipe econômica junto ao mercado, Mantega está garantido para 2014.

Por quê? Porque, apesar de não ter freio, o ministro tem poderoso airbag: com ele no posto, Dilma executa diretamente a política econômica. Por isso, depois de cogitar trocá-lo entre julho e agosto, resolveu mantê-lo e operar, com ele, os ajustes na economia: sustou a política de desonerações, liberou a alta da taxa Selic e deu sinais de que o governo perseguiria as metas fiscal e de inflação.

No horizonte de 2014 há mais incerteza econômica e uma campanha em que a presidente será questionada dia sim, outro também, sobre quem será seu ministro da Fazenda caso reeleita. Mas, ao menos, Mantega baterá o recorde de Pedro Malan.


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