Folha de S. Paulo


Queremos salário, lazer, tempo e poder

Eduardo Anizelli-8.mar.2016/Folhapress
SAO PAULO, SP, 08-03-2016, A Marcha das Mulheres na av. Paulista, em protesto contra Eduardo Cunha, a Reforma da Previdencia e o impeachment de Dilma, alem das pautas feministas (liberaçao do aborto, igualdade de genero, contra a violencia etc.). (Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress, COTIDIANO)
A Marcha das Mulheres, na avenida Paulista, em São Paulo

A Síntese de Indicadores Sociais – 2016, divulgada na última sexta (2), pelo IBGE, que analisa as condições de vida da população brasileira, evidencia diferenças profundas entre homens e mulheres.

O que se depreende, de imediato, é a queda significativa, a partir de 2015, no processo de inclusão e ascensão social iniciada em 2003.

Sem eliminar as críticas à política econômica adotada pelo governo anterior, fica evidente que esse cenário nacional é reflexo da crise mundial do capitalismo que se arrasta pelo oitavo ano consecutivo e é do conhecimento de todos.

Os números mostram que esse quadro de recessão, que já representa elementos de depressão, só tem piorado após o golpe. Enquanto promovem um despropositado arrocho fiscal, que atinge negativamente a economia, adotam medidas que favorecem o capital especulativo (aumento dos juros reais e devolução de R$ 100 bilhões pelo BNDES à União).

É nessa perspectiva sombria que analisamos esse processo de descenso social das mulheres que, ao lado dos negros, será a parcela mais atingida.

Destaco a análise do IBGE sobre a desigualdade salarial e a jornada de trabalho, incluindo o tempo que homens e mulheres gastam com o trabalho doméstico.

Em 2015 as mulheres recebiam, em média, 76% do rendimento dos homens em trabalhos convencionais e apenas 68% nos cargos de chefia, mas trabalhavam cinco horas a mais. Trabalhavam 54,9 horas semanais (20 horas na jornada doméstica e 34,9 no expediente externo) contra 50,8 horas da jornada dos homens (10 nos serviços domésticos e 40,8 no expediente externo).

As atividades relacionadas com os afazeres e cuidados domésticos, que não é remunerada, tem um forte impacto para as mulheres. A relação entre as atividades remuneradas e não remuneradas afeta o bem-estar, deteriora a qualidade de vida e é um dos fortes fatores que inibem as mulheres de terem uma participação mais ativa na sociedade, como, por exemplo, a atividade política.

Os padrões de gênero na sociedade brasileira, portanto, continuaram praticamente inalterados. Sabemos que o tempo é uma das principais pontas do nó: ter tempo é uma das questões mais crucialmente ligadas à dominação. Queremos salário, lazer e tempo, porque queremos poder.

Lamentavelmente, no sentido contrário da busca pela igualdade entre os gêneros, vem aí a reforma da Previdência, que atingirá duramente o direito dos trabalhadores e sobretudo das mulheres. Já sinalizaram que querem ampliar ainda mais o tempo de trabalho para aposentadoria das mulheres em relação aos homens, o que é inaceitável, visto sua maior jornada de trabalho.

Mas nós, mulheres, estaremos de pé, resistiremos, lutaremos e venceremos!


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