Folha de S. Paulo


Uma velha/nova bandeira: Diretas Já!

Eduardo Anizelli/Folhapress
Manifestantes protestam contra o governo de Michel Temer e em favor da ex-presidente Dilma Rousseff na av. Paulista, em São Paulo
Manifestantes protestam contra o governo de Michel Temer na av. Paulista, em São Paulo

Dia 31 de agosto de 2016. Data que ficará marcada na história do Brasil. Data em que arrancaram o mandato da primeira mulher eleita presidenta do Brasil. Data em que puniram, condenaram uma presidenta inocente. Data em que se promoveu um golpe parlamentar no Brasil.

Sabedores de que o impeachment era apenas um meio para viabilizar uma decisão política já tomada, os golpistas argumentam que o rito foi plenamente respeitado. O eventual respeito a uma regra formal, entretanto, não elimina a ilegalidade e a imoralidade de seu conteúdo como, infelizmente, demonstra a nossa história.

Olga Benario, mesmo grávida, foi condenada "legalmente" a ser deportada para morrer num campo de concentração da Alemanha nazista. No tribunal da inquisição que condenou Galileu Galilei ou no tribunal francês que forjou a condenação do capitão Dreyfus, bem como no macarthismo dos EUA, que prendeu inocentes e destruiu a carreira de centenas de intelectuais americanos, também havia ritos a serem respeitados. Mas a história revelou que esses ritos eram apenas uma farsa.

Horas depois da dantesca sessão do Senado, no mesmo plenário, o Congresso Nacional deu posse ao biônico Temer. A repercussão mundial foi a pior possível.

O jornal britânico "The Guardian" afirmou que houve um golpe de Estado para depor a presidenta Dilma e "matar a Lava Jato"; o americano "Washington Post" disse que os senadores "se uniram pela retirada de Dilma sabendo que seria injusto"; o francês "Le Monde", que "Dilma é vítima de um golpe encenado por seus adversários"; e o espanhol "El País", no editorial "Golpe baixo no Brasil", diz que a destituição de Dilma "implica um dano imenso às instituições brasileiras".

O mundo tem claro que houve um golpe parlamentar no Brasil, o que certamente explica o nervosismo deles e o Temer real que surge após a posse: autoritário, arrogante, "proibindo" que lhes chamem de golpistas e determinado a iniciar as reformas contra o povo.

A tendência é que esse tipo de postura autoritária se acentue ainda mais diante das manifestações que exigem "Fora, Temer" e novas eleições, a exemplo do protesto no centro de São Paulo, onde uma estudante perdeu a visão de um olho após ser atingida por bombas da PM.

Será uma luta sem trégua para evitar que eles coloquem em prática os objetivos de fundo do golpe parlamentar: aniquilar os direitos trabalhistas e previdenciários e entregar nossas riquezas naturais ao capital internacional.

Diante do impasse eminente, a tendência é que cresça ainda mais o movimento popular e se ampliem as aspirações democráticas em favor de uma velha/nova bandeira: Diretas Já!


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