Folha de S. Paulo


Uma vaca nada sagrada

BRASÍLIA - Transformada numa espécie de vaca sagrada pelos petistas nas campanhas eleitorais, a Petrobras virou, na vida real, o centro de um esquema de corrupção para todos aqueles que queriam mamar fartamente nas tetas do governo.

Não por acaso a nova pesquisa Datafolha mostra que a estatal tornou-se num dos principais fatores de desgaste da presidente Dilma. Sete de cada dez brasileiros acham que ela tem alguma responsabilidade no escândalo da petropropina.

O fato é que, hoje, fica no ar a pergunta se a campanha petista contra a privatização da Petrobras, que deixou tucanos na defensiva, só tinha motivações nacionalistas. Se tinha, ganhou outra$ rapidamente.

O PT conseguiu transformar o debate sobre a privatização da estatal num sacrilégio, um atentado contra o país ""perderíamos o controle sobre a maior empresa brasileira, destinada a explorar nosso passaporte para o futuro, o petróleo do pré-sal.

Pois bem, deu-se o contrário do que o PT pregava. O país perdeu o controle sobre a Petrobras, entregue a grupos políticos que estavam violando nossa vaca sagrada. Petistas dizem que sempre foi assim. Era, mas não em tal dimensão. E com eles a empresa deveria ser preservada, não sugada a tal ponto.

Não bastasse isso, o intervencionismo do governo Dilma fragilizou a estatal. Reduziu seus lucros e elevou irresponsavelmente sua dívida. Resultado: ela ficou sem caixa para bancar seu plano de investimentos.

Tudo vindo à tona num cenário internacional adverso. O preço do petróleo está despencando. Se voltar à casa dos US$ 30 o barril, a exploração do pré-sal perde competitividade, num momento de mudanças na matriz energética mundial.

Talvez seja a hora de rediscutir o papel da Petrobras no modelo de exploração do pré-sal. Hoje, ela não dá conta do recado de ser a operadora única dos campos do nosso passaporte para o futuro. Sob o risco de perdermos nosso bilhete premiado.


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