Folha de S. Paulo


Aumento dos combustíveis já chega ao arroz

Luiz Carlos Murauskas - 13.jun.11/Folhapress
URUÇUÍ, PI, BRASIL, 13-06-2011: Máquina agrícola fazendo colheita de arroz, em Uruçuí (PI); indústria antecipa compras sob receio de greve de caminhoneiros (Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress)
Colheita de arroz em Uruçuí (PI); indústria antecipa compras sob receio de greve de caminhoneiros

O aumento de tributação nos combustíveis começa a preocupar a indústria de arroz. As que estão com os estoques baixos pagam de R$ 1 a R$ 2 a mais por saca do produto em casca. Esse aumento vai chegar ao consumidor.

"Parte das indústrias está antecipando as compras, com receio de que se concretize a ameaça de uma paralisação dos caminhoneiros no início do próximo mês", diz Vlamir Brandalizze, da consultoria curitibana Brandalizze Consulting.

Segundo ele, é no final de cada mês que ocorre a maior movimentação no setor, já que nesse período as indústrias abastecem o varejo, que se prepara para as intensas vendas do início do mês seguinte.

O analista diz que a demanda por arroz está forte. Entre as causas dessa procura pelo cereal, estão a boa oferta de produto e a elevada taxa de desemprego.

"O consumidor se volta mais para os produtos básicos quando a renda é curta."

Além disso, os consumidores estão pagando pelo arroz um valor abaixo da média, segundo Brandalizze.

Normalmente, o preço do produto gira em torno de US$ 1 por quilo nos supermercados. Neste ano, está em R$ 2,50, valor inferior ao da moeda americana, que nesta terça-feira (25) fechou em R$ 3,17.

Nem o produtor nem a indústria estão contentes, no entanto, com os preços do arroz. Ambos argumentam que não obtêm rendimento na comercialização do cereal.

Já o varejo ganha, segundo Brandalizze. Mesmo sendo um produto de promoção nas gôndolas, os supermercados conseguem colocar margens de lucro na sua comercialização.

O produtor está vendendo a saca de arroz em casca a R$ 40, um valor próximo do de custo de produção. Já o consumidor paga um preço médio de R$ 12 por pacote de cinco quilos. O arroz de melhor qualidade chega a R$ 16.

REFLEXOS

Brandalizze acredita que o patamar atual de preços do arroz poderá reduzir a área de plantio na próxima safra, que deverá ser semeada a partir do final de ano.

Após ter utilizado 1,10 milhão de hectares na safra passada, o produtor gaúcho poderá semear 1,02 milhão na próxima. A diferença de área será destinada à soja.

Com renda menor, parte dos produtores poderá utilizar menos tecnologia na produção, o que não garante uma boa produtividade, como a da safra que se encerrou no primeiro semestre do ano.

Para o analista, o consumo médio per capita de arroz vem crescendo no país. Além da oferta interna maior, o consumidor está sendo abastecido com arroz produzido pelos países do Mercosul, principalmente pelo Paraguai.

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Alegria que pode... - As condições "boa e excelente" das lavouras de soja dos Estados Unidos recuaram para 57% neste ano, bem abaixo dos 71% de igual período do ano passado, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

...virar preocupação - É uma boa notícia para os produtores brasileiros, uma vez que os americanos são concorrentes diretos. Ainda é cedo, no entanto, para uma avaliação do resultado da safra dos EUA.

Depende do clima - A produtividade deste ano poderá não atingir o recorde do período 2016/17, mas ainda há chances de uma recuperação. Basta que o clima de agosto, período crítico para as lavouras, ajude, afirma Daniele Siqueira, da AgRural.

Efeito combustível - As consequências do aumento da tributação no setor ainda são incertas. A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) diz que nada ajudará. Outros analistas acreditam que nos preços do etanol haja mais espaço para ajuste do que nos da gasolina.

Sem reação - Os números do setor sucroenergético não são animadores nesta safra. Até o final da primeira quinzena deste mês, a produção de etanol hidratado caiu 17%. A de anidro, 5%. O total produzido recuou para 9,5 bilhões nesta safra, 12% menos.

Dia de quedas - As commodities agrícolas tiveram forte queda nesta terça-feira (25) nas Bolsas de Nova York e de Chicago. O açúcar recuou 3,5%, e o trigo, 3,0%.


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