Folha de S. Paulo


Crise da carne recai sobre o bolso do pecuarista, e arroba despenca

Pierre Duarte - 21,dez,15/Folhapress
Mocóca, SP, 21.12.2015 - Carne de gado angus ganha mercado no país. Gado da raça angus em pasto da fazenda Cardinal, de propriedade da VPJ Pecuária, na cidade de Mocóca, interior de SP. Peões da fazenda cuidando de rebanho angus. Antes considerada nobre e cara, a carne Angus deslanchou neste ano no país: houve aumento de 21% no abate dos animais de 2014 para 2015, em pleno ano de crise. A raça existe há 116 anos no Brasil, mas só há 10 começou a ser produzida com controle de qualidade rígido. (Foto: Pierre Duarte/Folhapress) **EXCLUSIVO/FSP/AGÊNCIA FOLHA**ESPECIAL**
Gado da raça angus em pasto da fazenda Cardinal, e, Mococa (SP)

A crise vivida pelo setor de carnes deságua cada vez mais no bolso do pecuarista.

Após a Operação Carne Fraca e a delação premiada dos donos da JBS, os preços internos, que tradicionalmente caem no período de inverno, desabam ainda mais.

Na terça-feira (6), a arroba do boi foi negociada a R$ 130,21, em média, menor valor nominal desde outubro de 2014.

Se considerada a média mensal de junho, deflacionada pelo IGP-DI, os preços do boi são os menores desde setembro de 2013.

Os dados são do Cepea (Centro de Pesquisa Econômicas Avançadas), ligado à Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) da USP.

Além de receber um preço menor pelo gado, o pecuarista foi submetido também a uma mudança na comercialização do animal. A JBS, principal compradora de gado do país, passou a fazer pagamento somente a prazo.

Para fugir dessa venda a prazo, o pecuarista recorreu a outros frigoríficos. O resultado é que a escala de abate do JBS ficou apertada e a dos outros alongou.

Os frigoríficos que tiveram a escala ampliada começaram a escolher melhor os animais e a pagar menos. Já a JBS, devido à dificuldade de compra em várias regiões, vem pagando mais pelo boi.

Em algumas regiões, a empresa paga R$ 3 acima do que pagam outros frigoríficos pela arroba.

Até então, a JBS exercia uma pressão nas compras de animais, devido ao poder de fogo que tem nas diversas regiões do país. Essa pressão na compra de gado começa a passar para outros frigoríficos.

Segundo Mariane Crespolini, pesquisadora do Cepea, essas incertezas do mercado complicam ainda mais o setor em um período de fim das águas e de condições de pastagens menos favoráveis.

Além disso, a pecuária vinha retendo fêmeas desde 2013, o que significa que aumentou o número de bezerros e, consequentemente, o tamanho do rebanho disponível para abate.

Os abates de fêmeas somava 42% dos animais destinados aos frigoríficos em 2013. No ano passado, esse número caiu para 38,6%.

Dos abates totais de animais em Mato Grosso, líder na pecuária, Crespolini destaca que 49% foram feitos pela JBS; 11% pelo Marfrig e 7% pelo Minerva. Os demais ficaram com 33%.

BOICOTE

Enquanto o boicote contra a carne da JBS estiver limitado a empresas isoladas, o efeito sobre as vendas da fornecedora não será grande.

Os pecuaristas estão preocupados, no entanto, que esse boicote se estenda pelas redes varejistas.

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Comércio de carnes entre Brasil e EUA ainda é fraco

O comércio de carne "in natura" entre Brasil e Estados Unidos, aprovado no ano passado, continua fraco.

Os Estados Unidos enviaram para o Brasil apenas 18 toneladas, enquanto o Brasil exportou 12 mil toneladas de carne congelada e 8 de carne fresca para os americanos.

O Brasil não tem uma cota específica de exportação para os Estados Unidos. Disputa 64,8 mil toneladas liberadas pelos americanos para vários outros países. De janeiro a maio, 49% dessa cota foi preenchida.

A carne norte-americana que se encontra no mercado brasileiro tem uma boa margem em relação à nacional.

Um quilo de picanha dos Estados Unidos, trazida pela JBS, custa R$ 70, acima dos R$ 50 de uma peça argentina e dos R$ 39 do produto nacional.


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