Folha de S. Paulo


Crise política derruba preços de commodities no exterior

Scott Olson - 4.out.08/AFP
Colheita de milho em fazenda no Estado de Illinois (EUA). *** ORG XMIT: WXG297 Joe Raben harvests corn on land he farms with his father and uncle October 4, 2008 near Carmi, Illinois. A recent tumble in the price of corn and soybeans combined with the rising cost of seed, fuel, and land rents have many Midwestern farmers concerned. AFP PHOTO/Scott Olson/Getty Images ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Colheita de milho em fazenda no Estado de Illinois (EUA)

A nova crise política que se iniciou no Brasil na quarta-feira (17) travou os negócios no mercado interno de grãos e provocou "um derretimento" dos preços nas principais Bolsas externas de commodities.

Uma das consequências da crise é a alta do dólar. A valorização da moeda norte-americana torna os preços dos produtos brasileiros mais baratos e mais competitivos para os importadores.

Já os exportadores brasileiros, que devem acelerar o ritmo das vendas externas, recebem mais reais pela mesma quantidade de mercadoria exportada.

É um jogo de ganha e ganha. Mas nem tudo é alegria. Se esse cenário de alta do dólar permanecer por um período longo, os preços das commodities vão ser repassados para o atacado, chegar ao varejo e interromper o processo de queda da inflação.

Seria um cenário completamente diferente do atual, uma vez que os baixos preços dos produtos agrícolas, somados à perda de poder de compra dos consumidores devido à recessão, estão reduzindo a inflação para patamares há muito tempo não vistos.

PESO EXTERNO

A crise brasileira tem poder de alteração dos preços nas principais Bolsa do mundo devido à importância do país no mercado externo de commodities.

Uma maior competitividade da soja do Brasil no exterior —o país é o maior exportador mundial— fará com que o produto dos Estados Unidos caia de preço.

As quedas já começaram. O recuo foi de 3,2% em Chicago nesta quinta-feira (18).

O mesmo ocorreu com café, açúcar e suco de laranja, produtos que também caíram de preço em Nova York.

O Brasil é líder mundial em produção e exportação desses itens.

A crise política atual também trouxe efeitos imediatos para o mercado interno agrícola, travando os negócios nesta quinta-feira.

Lucilio Alves, professor da Esalq e pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), diz que, em seus 14 anos de acompanhamento do mercado agrícola, nunca viu uma situação como esta.

Para o pesquisador, o mercado ainda está avaliando o desdobramento da crise. Na próxima semana, no entanto, poderá acelerar o ritmo de comercialização.

As negociações de commodities estão atrasadas no país, devido à queda de preços nas últimas semanas, e o produtor vai aproveitar esse momento para retomar as vendas, segundo ele.

CUSTOS

Mas, se a crise pode dar ganhos aos produtores na venda de seus produtos, deverá elevar os gastos para a próxima safra.

Daniele Siqueira, da AgRural, diz que muitos produtores apostavam em uma queda ainda maior do dólar com a aprovação da reforma da Previdência. Com isso, postergaram a compra de insumos.

A nova escalada do dólar vai obrigar esses produtores a aumentar os desembolsos para a compra de adubo e de agroquímicos para a safra 2017/18, que se inicia no segundo semestre.

PREÇOS

O contrato de julho da soja fechou a US$ 9,45 por bushel (27,2 quilos) nesta quinta-feira em Chicago, com recuo de 3,2% no dia.

O do café, ao cair para US$ 1,30 por libra-peso, perdeu 3,5% de seu valor, enquanto o do açúcar ficou 1,7% mais barato ao recuar para 16 centavos de dólar por libra-peso.

O trigo, cuja presença brasileira nas exportações mundiais é praticamente nula, ficou com os preços estáveis.

No mercado interno, apesar dos negócios travados em algumas partes do dia, muitos produtores aproveitaram para reiniciar as vendas.

O acompanhamento de preços da AgRural indicou que a saca de soja foi negociada a R$ 64,50 nesta quinta em Cascavel (PR), R$ 2,5 mais do que na quarta-feira (17).

Em Mato Grosso, os preços subiram de R$ 2 a R$ 4, com a saca atingindo R$ 56,5 em Sorriso e R$ 62 em Rondonópolis. Em Rio Verde (GO), o preço também esteve em R$ 62 por saca.

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Safra de café cai 11% neste ano

A produção total de café do Brasil deverá recuar para 45,6 milhões de sacas neste ano, ante 51,4 milhões em 2016.

Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que indica safra de 35,4 milhões de sacas do produto do tipo arábica, 18% menos do que na anterior.

Já a produção de conilon, após dois anos seguidos de queda, retorna para 10 milhões de sacas, 27% mais do que os 8 milhões de sacas de 2016.

Minas Gerais lidera a produção nacional de café arábica e deverá atingir 25,4 milhões de sacas neste ano. Já Espírito Santo lidera a de conilon, com 5,9 milhões de sacas.


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