Folha de S. Paulo


América do Sul quer combate conjunto contra ferrugem da soja

Paulo Muzzolon/Folhapress
Colheita de soja em fazenda a cerca de 215 km do município de Paranatinga (MT)
Colheita de soja em fazenda a cerca de 215 km do município de Paranatinga (MT)

A América do Sul é a principal região produtora de soja do mundo. O produto é tão importante que está no topo da lista da balança comercial de quase todos os países da região.

Um eventual desastre com essa produção traria um impacto muito grande para a agricultura e, consequentemente, para toda a economia da região.

Para evitar problemas futuros, Brasil, Paraguai e Bolívia se reuniram nesta quinta-feira (4), em Cuiabá (MT), para traçar metas de contenção de pragas que afetam as lavouras da região.

E a principal ameaça vem da ferrugem asiática, uma doença que entrou no Brasil no início dos anos 2000, mas que já provocou estragos bilionários.

Nos últimos dez anos, os gastos dos produtores apenas com prevenção da doença já somam US$ 12 bilhões.

O prejuízo é ainda maior quando se acrescentam os efeitos da ferrugem na produtividade. Os percentuais de perdas são elevados e, se o tratamento não for adequado, podem superar 40%.

Argentina e Uruguai foram convidados a fazer parte do grupo, mas, menos afetados pela doença devido ao clima, resolveram não participar.

O grupo, denominado GTA Latam (Grupo de Trabalho Anti-resistência da América Latina), tem muitos desafios. Um deles será a diversidade de datas de plantio da soja na região e regulamentações que propiciem o combate à doença.

A situação é tão complicada que até mesmo dentro dos próprios países não há regulamentações gerais, diz Endrigo Dalcin, presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso). Ele cita o caso do Brasil, onde cada Estado tem a sua própria legislação.

Uma das principais discussões em todos os países é a do vazio sanitário. Ele determina os períodos em que a soja pode ser plantada para evitar uma continuidade da doença.

Os três países já têm legislações sobre o vazio sanitário, mas nem sempre são respeitadas.

Neste período em que a soja tem remuneração melhor do que as outras culturas, os produtores têm semeado soja sobre soja. Ou seja, logo após a colheita da oleaginosa, voltam a semear a soja. Isso permite uma continuidade da doenças nas lavouras.

César Rivas, do Senave, departamento paraguaio que cuida da sanidade e da qualidade dos produtos, diz que esse controle ainda é difícil no país, mas o produtor vai se conscientizar que é necessário.

Já Marcelo Pantoja Soncini, da Anapo (Associação de Produtores de Oleaginosas e Trigo) da Bolívia, diz que o trabalho é ainda maior em seu país e que não se limita ao vazio sanitário.

Segundo ele, é necessária uma série de políticas para o setor. As perdas com a ferrugem da soja vêm aumentando, com a queda de produtividade chegando a 30%.

O grupo volta se reunir em junho na Bolívia e quer avançar nas discussões sobre os diversos períodos de plantio na região.

O Brasil semeia soja em 33 milhões de hectares; o Paraguai, em 3,2 milhões; e a Bolívia, em 1,35 milhão. Dessa área boliviana, 350 mil hectares são plantados no inverno.

O jornalista viajou a Cuiabá a convite da Aprosoja


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