Folha de S. Paulo


Diferença entre abates e couro indica informalidade maior da pecuária

Pierre Duarte - 6.jan.16/Folhapress
Colina, SP. 06/01/2016 - Boi 777. Nova forma de criação de gado permite engorda mais rápida. Gado da raça nelore criado no Polo de Pesquisa Alta Mogiana, em Colina, SP, onde a nova técnica esta sendo desenvolvida. Estudo desenvolvido no interior de São Paulo acelera o abate de bois em até um ano. O chamado boi 777 é resultado de um conjunto de medidas tomadas no pasto para deixar o gado pronto para ser abatido em até dois anos, um ano antes do método tradicional. Foto: Pierre Duarte/Folhapress **EXCLUSIVO/FSP**ESPECIAL**
Gado em SP; em 2016, 29,7 mi de bovinos foram abatidos no país, mas apareceram 33,6 mi de couros

Em tempos de crise, cresce a informalidade. Foi o que ocorreu com o abate de bois no ano passado.

Foram abatidos, oficialmente, 29,7 milhões de bovinos no país, mas apareceram 33,6 milhões de couros no mercado.

Esse milagre da multiplicação dos couros sempre existiu. Mas, nos últimos anos, essa diferença vinha caindo.

No ano passado, o número de couros superou em 13% o total de abates de bois em frigoríficos fiscalizados. Em 2015, o percentual havia sido bem menor, de 7,8%.

O dados oficiais de abates são divulgados trimestralmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e levam em consideração os animais que passam por algum tipo de serviço de inspeção sanitária.

Essa diferença ocorre porque o couro do boi que é abatido na informalidade acaba nos cortumes e é contabilizado pelo IBGE.

Maranhão e Bahia foram os Estados que mais registraram crescimento na venda de couro bovino em 2016. Já Mato Grosso, detentor do maior rebanho nacional, registrou queda na oferta.

Recessão interna e estabilidade no volume exportado fizeram com que os abates de boi do último trimestre do ano passado recuassem para o menor patamar desde 2011 nesse período.

Um dos sinais da crise econômica sobre o setor, e consequente redução de demanda, é que dos 13 principais cortes de carne bovina, apenas um teve reajuste próximo ao da inflação média do ano passado. Nos demais, houve perda.

Enquanto o IPCA apontou alta de 6,3% em 2016, o filé mignon e o contrafilé, por exemplo, tiveram reajustes anuais próximos a 3%.

As exportações do setor de carne bovina, levando em consideração apenas o tipo "in natura", somaram 1,1 milhão de toneladas, com ligeiro recuo.

SUÍNOS

Já o setor de suinocultura, produto com preços menores do que os da carne bovina, e com forte demanda do mercado externo, viveu um ano de recordes.

Os abates subiram para 42,3 milhões de animais no ano passado, um crescimento de 8% em relação a 2015. Essa evolução do abate foi permitida devido à intensa demanda externa pelo produto brasileiro.

A indústria nacional colocou 629 mil toneladas de carne suína "in natura" no mercado externo, 33% mais do que em 2015.

O país atinge recorde também na produção de frango. Durante o ano passado, foram abatidos 5,9 bilhões de animais, 1% mais do que em 2015.

As exportações de carne "in natura" de frango somaram 4 milhões de toneladas, com evolução de 2% no ano.

LEITE

Já a produção de leite, devido aos efeitos da crise econômica e do clima, perdeu espaço em vários dos principais Estados produtores.

Na média nacional, o país captou 23,2 bilhões de litros que passaram por algum tipo de inspeção, um volume 4% inferior ao de 2015.

Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná apontaram queda na captação do produto. Santa Catarina, em direção contrária, conseguiu aumentar o volume produzido.

Os dados do IBGE apontam, ainda, que a produção de ovos tem aumento contínuo, atingindo o recorde de 3,1 bilhões de dúzias no ano passado, uma alta de 6%.

NO BOLSO

Apesar do aumento da produção, os consumidores pagaram 10% mais pelo produto em 2015, segundo o IPCA. O preço do frango, quando comercializado inteiro, também ultrapassou a inflação, atingindo correção de 7,3%.

O leite e derivados custaram 15% mais para os consumidores, forçando queda da demanda, enquanto a carne suína teve alta de 1%, aponta o IPCA do IBGE.


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