Folha de S. Paulo


Desconhecimento atrasa escolha de Trump na agricultura, dizem analistas

Lucas Jackson/Reuters
Donald Trump faz sua primeira entrevista para a imprensa como presidente eleito, na cidade de Nova York (EUA), nesta quarta-feira
O presidente Donald Trump, que ainda não definiu seu secretário de agricultura

A demora de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, na escolha do futuro secretário de agricultura do país é esquecimento ou falta de interesse pelo setor?

Pode não ser nenhum dos dois motivos. Afinal, a lista dos possíveis indicados que já passaram pelo comitê de seleção é longa. Ou seja, não há desinteresse.

A própria dificuldade de Trump em escolher o sucessor de Tom Vilsack, secretário de agricultura do governo Barack Obama, mostra que também não é esquecimento.

O motivo poder ser outro, segundo alguns participantes desse setor: desconhecimento.

A falta de conhecimento do futuro presidente do setor e a complicada pauta de campanha estariam dificultando essa escolha.

Pedro de Camargo Neto, que já participou do Ministério de Agricultura do Brasil e rodou o mundo em negociações comerciais em busca de novos mercados para a carne suína brasileira, acredita que Trump desconhecia as complexidades da atividade agropecuária dos Estados Unidos e das atribuições do Usda (Departamento de Agricultura). "É falta de conhecimento mesmo", afirma ele.

O Usda é o segundo maior prédio público de Washington, abaixo apenas da CIA, em número de funcionários, afirma o ex-secretário de Produção e Comercialização no governo FHC.

CONTRA ACORDOS

O futuro secretário de agricultura dos Estados Unidos vai ter de conciliar política agrícola eficiente com uma campanha presidencial que, em muitos momentos, jogava contra o agronegócio.

Trump é contra acordos de comércio. Mas esses acordos são necessários para o agronegócio, dando força ao setor, afirma Camargo.

O então candidato à Presidência dos Estados Unidos se posicionou contra o TPP (acordo Transpacífico, que engloba 12 países). Com ele, os Estados Unidos teriam acesso a uma boa fatia do mercado mundial agrícola em condições especiais.

A não confirmação desse acordo pelo futuro governo norte-americano daria um fôlego maior para os produtos brasileiros na região dos países do acordo, principalmente na Ásia.

Trump também quer impor limites no Nafta, o que pode resultar em perda de comércio dos EUA no Canadá e no México.

Camargo destaca, ainda, que o futuro presidente sempre se manifestou contra os imigrantes, uma força de trabalho importante para o agronegócio dos Estados Unidos.

Além disso, Trump é contra regulamentações públicas. Mas a Farm Bill é uma grande regulamentação, ditando quem planta o que para receber os subsídios.

Trump e o novo secretario vão ter de "costurar" a vida real da atividade agrícola com promessas de campanhas, muitas delas fora da realidade.

O resultado de tudo isso é importante para o Brasil, concorrente direto dos Estados Unidos no mercado internacional. Os dois países se destacam na lista de produtores e exportadores de vários itens, que vão de grãos a proteínas.

*

Milho - A produção nacional de milho poderá chegar a 98 milhões de toneladas na safra 2016/17. A avaliação é da consultoria Céleres, de Uberlândia.

Verão - A estimativa para a safra de verão é de 33,8 milhões de toneladas, enquanto a produção de inverno poderá chegar a 63,9 milhões, segundo a consultoria.

Soja - Na avaliação da Céleres, a produção da oleaginosa deverá atingir 105 milhões de toneladas. A safra anterior foi de 97 milhões.

Café - O Brasil exportou 34 milhões de sacas no ano passado, 8% menos do que em 2015. As receitas recuaram para US$ 5,4 bilhões, 12% menos.

Líderes - Os dados são do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), que aponta Estados Unidos (6,5 milhões de sacas) e Alemanha (6,2 milhões) como os principais importadores do produto brasileiro.

Apesar do clima - Mesmo com a queda na oferta de hortifrútis, devido a problemas climáticos no país, a evolução dos preços foi de apenas 3,56% no ano passado.

Verduras - Dados da Ceagesp indicam que as frutas tiveram as principais quedas de preço no ano, com recuo de 27%. A seguir vieram legumes, queda de 15%, e produtos diversos (menos 4%).

Altas - O setor de frutas teve a principal alta entre os hortifrútis, ao subir 9%, em média. O setor de pescado aumentou de 21% no período.


Endereço da página: