Folha de S. Paulo


Preços do milho deverão subir no mercado pela alta nas exportações

Mauro Zafalon/Folhapress
Agrofolha 05.10.2015 - Colheita de milho em Brasnorte (MT); produtor quer elevar produção de etanol de milho. (Foto: Mauro Zafalon/Folhapress)
Colheita de milho em Brasnorte (MT); preço do produto poderá subir

Os consumidores de milho de Santa Catarina pagarão R$ 63 por saca do cereal importado em julho de 2017. Um anos depois, o produto poderá estar em R$ 71.

Exagero? Não, é o que indicavam os contratos futuros do cereal na Bolsa de Chicago e os do dólar na BM&FBovespa nesta semana.

Qualquer desvio para cima na taxa de câmbio ou nos preços de Chicago faz o valor das importações subir para R$ 80 ou até mais por saca.

Isso sem pensar em uma eventual quebra de safra em um dos grandes produtores mundiais, entre eles Estados Unidos e Brasil.

"Esse é um cenário com base em premissas de mercado de maio de 2016. Se tudo se mantiver constante como apontam os dados atuais, o consumidor de milho enfrentará anos difíceis em 2017 e 2018." Em julho deste ano, os preços deverão estar em R$ 57 por saca.

TRANSFORMAÇÃO

A advertência é de Anderson Galvão, da consultoria Céleres, de Uberlândia (MG). Há quatro safras que o país produz mais de 80 milhões de toneladas de milho por ano, mas o setor está passando por uma transformação na estrutura de mercado.

A tranquilidade de sempre no abastecimento interno cede lugar às exportações. Novas rotas de escoamento por Norte e Nordeste e a boa aceitação do milho brasileiro pelo mercado externo vão dificultar o abastecimento no Sul e no Sudeste, diz Galvão.

A indústria vai sair da posição confortável de abastecimento que tinha e, se quiser dispor desse produto, terá de atuar com o produtor, desenvolvendo contratos de compra, programas de troca e financiando o setor. "Deverá fazer o papel das tradings", afirma Galvão.

Os consumidores de milho terão de convencer os produtores de que, além do plantio na safra de inverno, poderão ter ganhos substituindo áreas de soja por milho no verão.

Até os anos 1990, a produção de milho vinha praticamente da safra de verão. Hoje, representa apenas 35% da produção nacional.

Parafraseando o ex-presidente João Figueiredo, Galvão diz que a indústria deverá dizer ao campo: "Plante que a indústria garante".

O Brasil é o único país que pode aumentar a área de milho sem comprometer a de outras commodities.

Portanto, a saída tem de ser por maior produção. "A pior coisa seria a adoção de medidas restritivas à exportação", diz Galvão.

"Afinal, o país só chegou a esse patamar elevado graças às exportações", acrescenta.

Produtores e indústrias têm de se conscientizar da necessidade de maior oferta de milho. Do lado do produtor, a rotação de cultura elevaria a produtividade da soja, estacionada devido a problemas de solo e de pragas vindas da utilização da mesma cultura por vários anos.

Já a indústria, principalmente a de carnes, sem oferta e preços razoáveis de milho, vai perder competitividade, um dos diferenciais do país no mercado externo.

A elevação do custo da carne vai afetar não só as exportações como o consumo interno. Os pequenos granjeiros vão ter forte elevação de custos e podem sair do mercado.

O mesmo pode ocorrer com produtores de leite, um produto praticamente consumido no mercado interno.

Eles terão aumento dos custos na produção, sem uma compensação monetária no mercado interno.

INFLAÇÃO

A falta de um bom planejamento na produção de milho vai se espalhar também pela inflação, devido à elevação dos preços pagos pelos consumidores.

Galvão diz que, se bem planejada a produção, o milho poderá ocupar parte da área de soja no verão. Esta vai para as áreas de pastagens.

Em algumas regiões do Paraná, por exemplo, a renda com milho já supera a da soja no verão, diz ele.

As novas tecnologias do milho fazem com que o produto tenha um rendimento agronômico melhor. Ao término de uma safra de soja, pode ter havido até nove pulverizações de agroquímicos. No caso do milho, são de três a quatro, segundo ele.

Está na hora de o setor privado consumidor assumir as rédeas dessa produção. Com deficit de R$ 170 bilhões, o governo não terá dinheiro para subsidiar programas de escoamento como fazia.

A indústria tem hoje os problemas que o produtor tinha há alguns anos: custos em dólar e receitas em reais.


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