Folha de S. Paulo


caminho sem volta

Antes patinho feio destinado ao mercado interno,milho se consolida como produto importante nas exportações do país

Mauro Zafalon/Folhapress
Colheita de milho em fazenda de MT

O Brasil exportou o recorde de 29 milhões de toneladas de milho no ano passado. Há dez anos, apenas 1 milhão de toneladas, conforme os dados divulgados na quinta-feira (7) pelo Ministério do Desenvolvimento.

As exportações de milho são um caminho sem volta. Até o início dos anos 2000, os produtores ficavam à mercê das indústrias e de grandes consumidores desse cereal.

Em um ano de boa safra, a oferta aumentava e os produtores, em geral, recebiam valores inferiores aos do custo de produção.

Mesmo em período de escassez de oferta, devido a quebras de safra, a negociação com as indústrias era difícil, e nem sempre a remuneração para o produtor era adequada.

O milho brasileiro era o patinho feio e só tinha um destino: o mercado interno.

Essa corrente foi quebrada em 2001, quando uma cooperativa paranaense se lançou no mercado externo e iniciou as exportações do cereal.

Até um ano antes, o país era grande importador. Em 2000, as importações somaram 1,8 milhão de toneladas, com a sangria de US$ 200 milhões na balança comercial do agronegócio.

As exportações de 2001 somaram 5,6 milhões de toneladas, com receitas de US$ 493 milhões.

O país demorou para se adequar ao mercado externo. Em 2011, no entanto, as exportações já beiravam 10 milhões de toneladas.

O Brasil ganha espaço por uma série de fatores. Uma delas é a entrada de Mato Grosso nessa cultura. Ao avançar a área de soja, o Estado amplia também a de milho. A safra do cereal vem logo após à de soja para um aproveitamento da terra.

Mato Grosso representa atualmente 25% da produção brasileira de milho. O aumento da produtividade no Estado e no país também é um dos fatores de destaque.

Há dez anos, o Brasil plantava 13 milhões de hectares, e produzia 43 milhões de toneladas do grão. Nesta safra, serão 15 milhões de hectares, com 82 milhões de toneladas. A área cresceu 15% no período. A produção, 91%. A produtividade média do país por hectare, que era de 3.279 quilos, está em 5.370 quilos. A do centro-sul atinge 6.122 quilos.

Mas, nesse quesito, o país tem muito a avançar. A produtividade média da Nova Zelândia é de 12 toneladas por hectare. A do líder mundial de produção -os EUA- fica em 11 toneladas.

Além de avançar na produtividade, o país precisa buscar os principais importadores mundiais, como o Japão. Assim como o país fez uma luta intensa para abrir esses mercados para as carnes, terá de direcionar mais cereal para os asiáticos. O Japão importa 15 milhões de toneladas por ano, mas levou apenas 2,8 milhões de toneladas do Brasil em 2015, ocupando o quarto lugar na lista nacional.

Em 2013, devido à seca nos Estados Unidos, o maior exportador mundial de milho -o Brasil é o segundo maior-, os japoneses e os sul-coreanos compraram uma média de 3,5 milhões de toneladas cada um no Brasil.

Vietnã e Irã, com volumes superiores a 4 milhões de toneladas cada um, foram os maiores importadores de 2015.

Estimativas indicam que o país poderá produzir acima de 100 milhões de toneladas de milho nos próximos anos. Consolidação de mercados externos e regularidade nas exportações farão o país encostar nos Estados Unidos, que exportam 45 milhões de toneladas.


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