Folha de S. Paulo


Indústria quer diálogo com China para aumentar venda de soja com valor agregado

O Brasil deverá exportar o correspondente a US$ 25 bilhões no complexo soja (grãos, farelo e óleo) no próximo ano.

Desse valor, 76% virão das vendas externas de grãos, um produto sem valor agregado.

A indústria brasileira de moagem quer mudar esse perfil. Ou, pelo menos, tornar esse cenário um pouco mais favorável às exportações de produtos com valor agregado.

E o foco principal dessa mudança começa pela China. O país fica com 75% das exportações brasileiras da commodity, mas tem uma política clara de apoio à agregação de valor e geração de emprego local.

Além disso, os chineses protegem o seu mercado de valor agregado com barreiras técnicas e sanitárias.

As mudanças não serão fáceis, mas Carlo Lovatelli, presidente da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), acredita que indústrias e governo deverão começar a se movimentar.

A mudança das importações chinesas de matéria-prima para produto agregado, mesmo que em pequena quantidade, já seria um incentivo para a indústria brasileira, em vista do grande volume importado pela China.

Lovatelli diz que "é preciso sensibilizar os chineses a dar ao Brasil uma cota de produto de valor agregado. Precisamos fazer algo nessa linha".

Mas essa negociação passa por governos, segundo Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove. "É uma negociação de governo a governo, mas primeiro precisamos sensibilizar o nosso a fazer isso", diz Lovatelli.

Avaliando o ano que se encerra, o presidente da Abiove diz que este "não foi um ano espetacular, mas que o câmbio ajudou muito o setor".

As margens das indústrias estão apertadas e é necessário um acerto na política tributária, uma vez que as indústrias não conseguem dar liquidez aos créditos tributários, afirma Trigueirinho.

Na avaliação da Abiove, 2016 será um período de desafios, tanto para indústrias como para produtores.

As indústrias, que já têm uma margem apertada, vão ter a concorrência de gigantes chinesas, que têm recursos públicos. De 9 a 15 novas fábricas de moagem estão entrando em funcionamento na China.

Já os produtores, que tiveram preços bons e fora da curva nos últimos três anos, vão conviver com elevação de custos e redução de preços em Chicago –Bolsa que indica a formação de preços das principais commodities.

O aperto dos produtores começa a ficar maior na próxima safra, quando eles terão insumos com custos mais salgados.

Uma das saídas para o setor será trabalhar os custos de escoamento "como nunca foi feito", segundo Daniel Furlan Amaral, gerente de economia da associação.

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Proteína A redução de proteína da soja, conforme demonstrou estudo recente da Embrapa, faz com que parte das indústrias de moagem façam um "blend" de matéria-prima.

Mistura Essas indústrias buscam soja em diversas regiões, misturando as com maior teor de proteína com as de menor para fazer um "blend".

Bienal A tradicional exposição pecuária –chamada Feicorte, que passou para Expocorte e agora será Intercorte– vai para a bienal.

Circuito A feira, que tem circuito em cinco Estados, fará o de São Paulo na Fundação Bienal de São Paulo, no Ibirapuera.

Negociação Os produtores já comercializaram 46% da soja da safra 2015/16. Na safra passada, o percentual era de 24%, segundo cálculos da Safras & Mercado.

Argentina A retirada, aos poucos, da tributação sobre soja na Argentina deverá dar mais renda ao produtor, segundo avaliação da Abiove.

Teste O governo deverá testar o mercado e, se produtividade e produção aumentarem, a retirada da tributação poderá ser acelerada, segundo Carlo Lovatelli, presidente da entidade.

Crédito O volume de crédito para custeio agrícola tem desempenho acima do esperado nesta safra. De julho a novembro, foram contratados R$ 39 bilhões, com alta de 31% sobre os R$ 29,7 bilhões do mesmo período de 2014, segundo dados do Banco Central. Já o número de operações contratadas caiu 9,6%, para 461 mil contratos.

Pecuária O custeio pecuário caiu 7% em valor, para R$ 10,6 bilhões, e em 6% em número de contratos, para 136 mil. O crédito agrícola total chegou a R$ 73,5 bilhões nos cinco meses da safra, com queda de 2,4% ante igual período do ano anterior. O custeio compensou, em boa parte, o mergulho do crédito para investimento e a ligeira retração dos recursos para comercialização, segundo Ivan Wedekin, da Wedekin Consultores.


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