Folha de S. Paulo


Apenas um alívio

Usinas têm ano favorável com alta de preço e do consumo de etanol, mas incertezas regulatórias travam retomada de investimentos

Editoria de Arte/Folhapress

O consumo de etanol hidratado está em patamares recordes e atingiu 1,75 bilhão de litros em outubro, 45% mais do que há um ano.

Os preços subiram 46% na porta das usinas desde o início de setembro, enquanto o reajuste nas bombas da cidade de São Paulo foi de 31% no mesmo período.

"É um pequeno alívio, mas não resolve os problemas do setor", diz Plinio Nastari, da Datagro, empresa especializada no setor.

O vigor da demanda e a assimilação dos preços pelos consumidores não animam, ainda, novos investimentos, segundo ele.

Etanol e açúcar estão em alta, mas as principais regras do setor ainda não foram definidas.

As incertezas regulatórias trazem insegurança para os investimentos, segundo Nastari. O setor tem de conhecer claramente a política fiscal do governo, que envolve Cide (o tributo sobre combustíveis) e a fórmula de reajuste da gasolina.

De qualquer forma, 2015 acabou sendo surpreendente para o setor. Aumento na mistura do etanol anidro à gasolina, alteração na Cide e mudanças no ICMS em vários Estados tornaram o etanol mais competitivo, empurrando o consumo para cima.

Nastari acredita que a tendência de alta nos preços do etanol ainda não se esgotou, apesar da crise econômica vivida pelo país.

O álcool ganhou a preferência de parte dos consumidores porque "pesa menos no bolso" na hora de encher o tanque.

EXPORTAÇÕES

Além disso, há um aquecimento nas exportações, principalmente devido às compras da China e da Índia.

Os chineses já compraram 301 milhões de litros de janeiro a setembro e devem terminar o ano com importações de 400 milhões de litros.

Para 2016, as estimativas indicam 700 milhões de litros. As compras dos chineses ocorrem porque eles querem substituir parte da gasolina pelo etanol, a fim de reduzir a poluição no país, segundo Nastari.

As exportações brasileiras de etanol, que estavam em 4,6 milhões de litros por dia útil em novembro do ano passado, atingem 8,5 milhões neste mês.

O país ganha em volume, mas perde em preço, que está 27% inferior ao de há um ano, de acordo com dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

Apesar da queda em dólares, as receitas dos exportadores são maiores em reais, devido à desvalorização da moeda brasileira.

Essa valorização do dólar dá também mais competitividade ao produto brasileiro.

FINAL AGITADO

Tanto etanol como açúcar recuperam preço e, por isso, o final da safra 2015/16 será agitado. Há muita cana ainda, e a moagem pode se estender para depois do Natal.

O volume de cana a ser moído é de 22 milhões a 24 milhões de toneladas. As chuvas fizeram o setor deixar de colher em 33,5 dias nesta safra, acima dos 25,7 do ano passado.

As usinas estão direcionando 58,8% da cana moída para a produção de etanol nesta safra que se encerra.

Na safra 2016/17, esse cenário não muda muito, com 57,5% da cana sendo direcionada para a produção do combustível. A cana ficará com 42,5%.

AÇÚCAR

O desempenho do açúcar poderá também dar um alívio ao setor. Na safra 2015/16 -que teve início em 1° de outubro de 2015 e vai até 30 de setembro de 2016-, o deficit entre produção e demanda será de 2,6 milhões de toneladas de açúcar.

Apesar desse deficit, os preços não devem reagir muito graças à elevada relação estoque-consumo, que está em 48,5%.

Um patamar razoável nessa relação seria 41%. Abaixo desse patamar, o setor tem recuperação de preços, segundo Nastari.

O preço médio do litro do etanol hidratado na semana terminada em 20 deste mês esteve em R$ 1,7317 nas usinas, de acordo com levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Já nas bombas dos postos da cidade de São Paulo, estava em R$ 2,512 no mesmo período, conforme pesquisa da Folha.


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