Folha de S. Paulo


VINHO ENCORPADO

Vinícolas buscam aumentar produção com mais plantas por hectare sem perder qualidade

Não há mais espaço para um crescimento apenas horizontal da vitivinicultura. São necessárias renovação e busca de qualidade da uva e, consequentemente, do vinho.

É o que procuram as vinícolas hoje. "O vinho é um reflexo do lugar", diz Sebastián Ruiz, enólogo-chefe da vinícola Tarapacá, localizada no Vale do Maipo, no Chile.

Por isso, o conhecimento do solo, do clima e até da natureza autóctone é importante para a descoberta do conceito do vinho.

"Erramos muito no passado, quando a visão era a de apenas plantar, produzir e vender", diz ele, referindo-se ao fim dos anos 1980.

E é o que Ruiz busca nos 605 hectares de área plantada da vinícola Tarapacá.

A conjugação de uma viticultura moderna passa de cepas e clones aprimorados ao conhecimento das respostas do solo onde estão plantadas as videiras.

Há dois anos, Sergio Serrano, administrador da vinícola, vem estudando o solo. Abriu valas nas diversas áreas da plantação para avaliar a complexidade do terreno.

Terrenos argilosos, com pedras pequenas ou grandes, profundidade das pedras. Tudo isso merece análise, e as respostas a essas dúvidas vão resultar em um produto de melhor qualidade.

A adequação da variedade da uva ao terreno vai permitir uma elevação do número de plantas por hectare, sem perder a qualidade.

Nas renovações que vem fazendo no campo, Serrano afirma que a intenção é por atingir uma média de 5.000 plantas por hectare. Com isso, a vinícola consegue ter uma oferta maior de uva para a produção de vinhos de melhor qualidade. A produção média por planta é de 900 gramas.

Os desafios continuam também do outro lado da cordilheira dos Andes. No vale do Uco, na Argentina, Edward Flaherty, enólogo-chefe da vinícola Tamarí, um californiano com passagens pelo Chile e pela Europa, diz que um dos desafios para ele é entender a região.

"A Argentina não é só malbec, mas há espaço para outras variedades." É preciso entender a natureza da região, que tem uma qualidade impressionante de luz, mas também um clima complexo, que é seco e afetado por geadas e fortes ventos, afirma.

Exigente com o resultado final do produto, Flaherty diz que não há vinho perfeito. "Não há vinhos de 100 pontos", em referência à escala criada para determinar a classificação da bebida. "Por isso, a minha satisfação é produzir um bom vinho, com preço mais acessível ao público. O consumidor busca valor e qualidade", diz.

A busca por novos caminhos exige, no entanto, investimentos pesados, segundo Manuel Bianchi, diretor de viticultura da vinícola Tamarí.

Boa parte dos parreirais tradicionais -e com variedade inadequada para a área- está sendo substituída.

Toda a produção é feita com irrigação e, no caso específico da vinícola Tamarí, toda a videira é coberta com telas para evitar os estragos de granizo e de ventos.

BRASIL

Voltadas para a produção de vinhos classificados como reserva e gran-reserva, tanto a vinícola chilena como a argentina estão de olho no crescente mercado brasileiro.

"O momento da economia brasileira não é favorável, mas temos de manter a busca da qualidade e ter uma visão de longo prazo", afirma Sebastián Rios Dempster, diretor-geral da Tamarí.

Javier Vila, diretor de exportação para o mercado brasileiro das duas vinícolas, diz que a alta do dólar, repassada para os preços, faz o consumidor brasileiro mudar de faixa de produto. Mas ele acredita em uma acomodação desses preços.

O jornalista viajou a convite das vinícolas Tarapacá e Tamarí


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