Folha de S. Paulo


Apesar da crise econômica, preço da carne bovina deve subir

Os efeitos negativos das dificuldades econômicas do país não devem afetar os preços da carne bovina neste ano. Pressionados, os valores atuais já estão acima dos de anos anteriores.

Se essas dificuldades econômicas avançarem para o próximo ano, porém, o setor também começará a sentir os efeitos do aumento de desemprego, da inflação elevada e da perda de poder de compra dos consumidores.

A avaliação é de José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP e especialista no setor de carnes.

A arroba de carne bovina está próxima de R$ 150 no Estado de São Paulo, valor acima do de há um ano.

A oferta de boi para abate teve uma pequena melhora nas últimas semanas, mas os preços devem continuar firmes e voltam a subir a partir de agosto, segundo ele.

O país vive um gargalo estrutural na oferta de animais, e isso só será resolvido com ganho de produtividade, o que exige mudanças e investimentos no setor.

Ferraz acredita na alta dos preços do boi gordo no segundo semestre porque as exportações, que começaram fracas no início do ano, estão se recuperando.

"Elas [as exportações] podem não superar as de 2014, que foram excelentes, mas vão manter um bom ritmo."

A demanda externa se mantém, e a oferta está menor. "A tendência é de alta também no exterior." Ferraz diz que é preciso avaliar bem a retomada do rebanho dos Estados Unidos, um dos principais países nesse setor, tanto nas importações como nas exportações.

A queda no rebanho norte-americano foi grande e eles estão com o menor número de animais desde os anos 1960. Essa leve recuperação ocorre devido à redução dos custos dos grãos, um item de peso na composição dos gastos dos pecuaristas dos EUA.

O analista da FNP acredita que essa queda nos preços do grãos vá trazer ânimo para o setor. A recuperação, no entanto, quando vier, vai ser um processo longo.

Para o analista, o próprio Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) ainda não leva em conta essa recuperação, quando trata de dados de importação e exportação de carne bovina dos próximos anos.

Outros mercados que podem oferecer carne bovina também têm problemas, segundo Ferraz. A situação australiana é complicada, enquanto a pecuária argentina se mantém desestruturada.

A Índia eleva a oferta, mas de carne de búfalo, um produto de menor procura nos mercados mais exigentes.

Os indianos ocupam lugar deixado pelos australianos na África e no Oriente Médio.

O analista acredita, porém, que a manutenção dos preços da carne bovina tenha um limite. Internamente, uma paralisia da economia vai levar o consumidor ainda mais para a carne de frango, que tem valores mais apropriados para o bolso. No mercado externo, o consumo de aves também aumenta.

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Etanol A colheita avança e o preço do álcool cai, aproximando-se da média dos R$ 2 por litro na cidade de São Paulo. Acompanhamento da Folha em 50 postos da capital indicou que o preço médio desta semana recuou para R$ 2,02 (-1,02%).

Paridade Conforme os cálculos da Folha, o etanol vale 64% da gasolina, que teve preço médio de R$ 3,155 por litro. O valor mínimo do etanol já está em R$ 1,799 por litro, apontou a pesquisa.

Primeira queda Os preços dos produtos agropecuários tiveram a primeira queda no atacado em nove meses, conforme o IGP-10. O índice acompanhou preços até o dia 10 e apontou deflação de 1,3% no setor.

O que cai Apesar da queda no mês, os produtos agropecuários ainda têm alta de 3,7% no ano. Neste mês, as principais quedas de preço vieram de soja, ovos, farelo de soja, milho e aves, segundo a FGV.


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